A Fifa admitiu, pela primeira vez, a possibilidade de fazer um fundo indenizatório para os trabalhadores migrantes que tiveram seus direitos trabalhistas desrespeitados durante a construção dos estádios e de obras de infraestrutura para a Copa do Mundo do Catar 2022.
A iniciativa, que foi sugerida por uma série de ONGs de direitos humanos, como a Anistia Internacional e a Human Rights Watch, já ganhou o apoio de algumas federações nacionais, como as da França, Alemanha e Noruega. Mais recentemente, as federações de Inglaterra e País de Gales também apoiaram a ideia. As ONGs pedem um fundo de reparação de US$ 440 milhões, que é o mesmo valor que será desembolsado pela Fifa com premiações.
“Certamente é algo que estamos interessados em progredir”, disse Alasdair Bell, vice-secretário geral da Fifa, em uma sessão do Conselho da Europa sobre direitos trabalhistas no Catar.
“É importante tentar ver que qualquer pessoa que sofreu lesão como consequência de trabalhar na Copa do Mundo, de alguma forma, seja compensada”, completou.
Fundo catariano
De acordo com a Human Rights Watch, citando fontes locais, o Catar já criou um fundo de apoio aos trabalhadores que, desde 2020, pagou US$ 164 milhões em indenizações.
“Não é bobagem. É real [a criação do fundo] e está oferecendo alguns benefícios tangíveis que realmente melhoraram a vida de centenas de milhares de pessoas”, afirmou o dirigente da Fifa.
“O risco é que, uma vez que os holofotes sejam desligados, após a Copa do Mundo, é realmente importante que essas mudanças permaneçam. E, com sorte, se espalhem ainda mais pelo Oriente Médio”, acrescentou o dirigente.
Condições precárias
O Catar se tornará o primeiro país árabe a sediar a Copa do Mundo, mas a nação do Golfo Pérsico recebeu muitas críticas por seu tratamento aos trabalhadores migrantes, que sofreram abusos de direitos humanos e desrespeito às leis trabalhistas.
As empresas de construção civil contratavam trabalhadores pobres de países como Índia, Paquistão, Bangladesh, Nepal, Sri Lanka e Butão pelo sistema kafala, no qual as companhias “patrocinavam” a viagem e eram responsáveis pelo visto do trabalhador.
Esse regime, que acabou oficialmente abolido no Catar, era responsável por vários desrespeitos aos direitos humanos, com as companhias confiscando o passaporte dos funcionários, que viviam em um sistema análogo à escravidão.
Segundo reportagem do diário britânico The Guardian, pelo menos 6.500 trabalhadores morreram durante as obras no país, fato que é negado pelo Comitê Supremo para Entrega e Legado, órgão local que gere a competição.
De acordo com os organizadores, o bem-estar dos trabalhadores melhorou em todos os aspectos. Nasser Al Khater, em entrevista à Sky Sports, afirmou que os críticos precisam “se educar um pouco mais sobre o que está acontecendo no Catar”.
No entanto, Lise Klaveness, presidente da Associação Norueguesa de Futebol, disse aos legisladores em Estrasburgo, na França, que “é difícil enquadrar, mas é necessário também para abusos históricos, lesões e mortes”.