No início desta semana, a C”mara Portuguesa de Comércio promoveu em São Paulo uma rodada de negócios sobre a Copa do Mundo de 2014, que terá o Brasil como sede. O principal objetivo era reunir empresários dispostos a incluir a competição em seus planejamentos, mas o evento optou por fazer um pre”mbulo detalhando a situação do país e da preparação para a competição. Uma das principais atrações nessa fase de palestras, curiosamente, foi um exemplo que contraria radicalmente os planos para o Mundial. Presidente da comissão de promoção da Eurocopa de 2004, em Portugal, entre 2003 e 2004, Madalena Torres falou ao público sobre o perfil da organização da competição. E com isso, mostrou motes extremamente diferentes do que é feito no Brasil. Um exemplo disso é um planejamento global para a realização de um grande evento. Portugal decidiu concorrer ao posto de sede da Euro porque entendeu que essa era uma plataforma interessante para fomentar o turismo. Todo o projeto para o torneio foi baseado em duas frentes: aumentar a notoriedade do país e atualizar sua imagem, que ainda era associada apenas a sol, mar, tradição, festas e um povo receptivo. ?A realização da Euro teve pouco a ver com o futebol e muito a ver com o desenvolvimento do país. É o terceiro evento com maior impacto midiático no mundo, foi visto por nove milhões de espectadores em 2004. Tudo isso contribui para mostrar ao mundo que Portugal é um país din”mico e que se modernizou?, comentou Madalena. O plano para o turismo ainda apontou algumas regiões que deveriam receber mais atenção nas ações de comunicação para a Eurocopa. A ideia de Portugal era aumentar o tr”nsito de pessoas não apenas nas cidades que receberiam jogos, mas em centros importantes para o desenvolvimento do país. A perspectiva até possui pontos coincidentes com o projeto brasileiro. O Ministério do Turismo, por exemplo, fala em usar a Copa do Mundo para trabalhar 65 destinos no país ? a ideia é fazer com que as pessoas que fiquem hospedadas nas sedes conheçam outras cidades da região. No entanto, a pasta ainda não tem um mote claro sobre quais são as metas do país com a competição. A menos de cinco anos do início, isso ainda está em discussão e deve ser delineado somente nos próximos meses. ?O Ministério do Turismo faz parte de uma comissão criada para o evento Copa, o que mostra a import”ncia dessa pasta para o evento. Atualmente, estamos em fase de planejamento e de debate sobre o tema promoção. Mas acredito que daremos sequência ao que já tem sido bem feito pela Embratur. No ano passado, a campanha ?Brasil sensacional? já mostrava uma perspectiva assim, com um país que vai muito além do sol, das praias e do Carnaval?, disse Luiz Barreto, ministro do Turismo. O fato de Portugal ter antecipado o planejamento sobre o turismo, contudo, não é o único fator que distancia o país da realidade brasileira. As diferenças também aparecem na quantidade de estádios novos ? a nação europeia construiu sete arenas e reformou três para a Euro 2004, enquanto o Brasil vai erguer quatro palcos e adequar outros oito até a Copa do Mundo. ?Houve muita polêmica sobre a necessidade de construirmos sete novos estádios, mas há outro ponto importante a ser considerado. Não sabemos o que seria da concorrência com a Espanha se não tivéssemos previsto tantas arenas novas. Podíamos ter ficado sem a Euro?, lembrou Madalena. Outro ponto conflitante entre as realidades de Brasil e Portugal é o trabalho com o público. O país europeu já tinha, desde a época em que se lançou como candidato à Euro, um plano a ser desenvolvido para que seus habitantes se juntassem em torno da competição. A sede da Copa do Mundo de 2014, em contrapartida, prefere apostar no perfil das pessoas. ?A Copa não é só nos estádios, mas também fora. Há os fan fests e uma série de ações que o público pode participar. Tenho certeza de que a Copa do Mundo será uma grande festa no Brasil?, projetou Barreto. Em Portugal, a campanha para que o povo se envolvesse com a Euro 2004 teve três fases, que já estavam planejadas desde a candidatura. Primeiramente, o público foi convocado a participar da competição. O segundo passo foi mobilizar as pessoas, e só então é que houve um apelo para mostrar a força do país.