Afinal, os e-Sports são ou não são esportes? Uma fala da ministra do Esporte, Ana Moser, em entrevista ao UOL, gerou discussão nas redes sociais e na comunidade esportiva nesta terça-feira (10). Segundo a ex-jogadora de vôlei, e-Sports não se enquadram como esporte. Portanto, não estão contemplados no rol de investimentos que se pretende fazer na recriação da pasta no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
“No meu entendimento, não é esporte. E a gente lutou, na minha vida pregressa, à frente da Atletas pelo Brasil, fizemos ação forte junto ao Legislativo, para que o texto da lei federal não fosse aberto para ter o encaixe dos esportes eletrônicos”, contou Ana Moser.
“O texto está lá protegendo o esporte-raiz. Não tirou os e-Sports porque ele não estava literal. Na definição de esporte, tinha sido dada uma abertura que poderia incluir o esporte eletrônico. E a gente fechou essa definição para não correr esse risco. O risco sempre acontece e é um trabalho constante”, acrescentou.
Desde que foi anunciada para o cargo, Ana Moser afirmou que a prioridade dos investimentos do Ministério do Esporte seria em programas voltados para dar acesso à população à prática esportiva. Por conta disso, a ministra não vê os esportes eletrônicos como prioridade.
“A declaração é extremamente coerente com a trajetória e com o que pensa a Ana Moser sobre o esporte. O esporte para ela é educação, inclusão social, combate ao sedentarismo e à obesidade infantil. Investir no esporte-raiz traz uma série de benefícios ao fazer as pessoas se movimentarem”, ponderou Ary Rocco Júnior, professor da Escola de Educação Física e Esporte da Universidade de São Paulo (EEFE-USP).
Segundo Rocco Júnior, na área acadêmica ainda há controvérsias na questão de considerar os e-Sports como esporte.
“Até os anos 1990 e 2000, era aceito que o esporte tinha um caráter competitivo, regras universalmente aceitas e uma federação que regulamentava a modalidade no mundo todo. A partir daí, surgiram uma série de definições que fugiam desse espectro”, explicou.
“Do ponto de vista da estrutura, os e-Sports não têm confederação nacional nem federação internacional. O COB [Comitê Olímpico do Brasil] não aceita. Os e-Sports estão fora do sistema esportivo internacional, fora do guarda-chuva do COI [Comitê Olímpico Internacional]”
Ary Rocco Júnior, professor da EEFE-USP
Ivete Sangalo
Nem todo mundo pensa assim. Para Léo De Biase, pioneiro e entusiasta dos e-Sports, é preciso separar a fala da ministra Ana Moser em duas partes.
“Ao falar que os e-Sports não são prioridade da pasta dela, ela tem a razão dela. Ela tem outras coisas para focar. A segunda parte é uma opinião pessoal dela. Quando entrou na seara da comparação, ela foi infeliz”, analisou De Biase.
Para Ana Moser, e-Sports são entretenimento e não esporte. Para argumentar isso, a medalhista olímpica em Atlanta 1996 comparou a preparação de um praticante de e-Sports com o treinamento de uma cantora famosa.
“Você se diverte jogando videogame. O atleta de e-Sports treina. Mas a Ivete Sangalo também treina para poder dar show, e ela não é uma atleta da música. Ela é uma artista, que trabalha com entretenimento”
Ana Moser, ministra do Esporte
A definição é rejeitada por Alessandro Sassaroli, diretor comercial de gaming na Webedia Brasil e colunista da Máquina do Esporte.
“Ela fala da Ivete Sangalo, que se prepara, treina, mas nem por isso ela é uma atleta da música. Mas e toda a parte de ginástica da Daiane dos Santos, o que afinal é aquilo? Não passa muito pela dança e a música? Então, isso também não deveria ser considerado esporte”, argumentou.
“O próprio exemplo que ela utiliza, em relação à música e à dança, no esporte também existe isso. Vai ter breaking na Olimpíada [de Paris 2024]. Então, a música e a dança não podem ser consideradas esporte? São olhares muito particulares dela”, finalizou.