A possibilidade de a venda dos direitos de transmissão do Campeonato Brasileiro atingir níveis jamais alcançados é vista pelos clubes brasileiros como uma chance de o país ter condições de concorrer com a Europa para manter os principais jogadores. Com a possibilidade de a Record pagar até R$ 1 bilhão por ano pelos direitos da Série A do Brasileiro, dirigentes e executivos de clubes consultados pela Máquina do Esporte acham que o aumento das cotas de TV deve significar um grande passo para que o futebol brasileiro passe a se equiparar ao europeu em alguns aspectos. O São Paulo, por exemplo, único clube do eixo Rio-SP que registrou superávit no último ano fiscal e que pode receber R$ 70 milhões anuais caso a proposta da Record se confirme e seja fechada, diz que mais dinheiro proveniente da TV pode significar a manutenção de jogadores importantes para a equipe. ?A receita da TV é a número um de praticamente todos os clubes brasileiros, é a mais importante. Então, se ela aumenta, obviamente isso é importante para nós. Mesmo assim nós vamos continuar com a nossa política e tentar melhorar sempre a nossa equipe. Eventualmente, teremos condições de segurar algum jogador?, afirma Marcelo Portugal Gouvêa, ex-presidente e atual diretor de planejamento do São Paulo. Com a chance de triplicar o valor atual que é recebido pela TV, porém, o receio é de que ocorra uma irracionalidade no gerenciamento das equipes. O fenômeno seria parecido ao ocorrido no final dos anos 90, quando grandes investidores aportaram recursos em grandes clubes, inflacionando o mercado e aumentando as dívidas. Mas, na visão de Dagoberto dos Santos, gerente-executivo operacional do Santos, a manutenção de um trabalho profissional e próspero deverá ser mantida na maioria dos clubes brasileiros caso a proposta de R$ 1 bilhão se concretize. ?Essa mentalidade de gastar mais do que recebe é algo que não existe mais no futebol. Hoje você tem que ter transparência administrativa e, por conta disso, o gestor tem que pensar antes de gastar mais do que arrecada para garantir a qualidade da sua gestão. Essa visão do passado, que havia uma irresponsabilidade, tem mudado significativamente?, diz o executivo santista. Mais contido é o discurso de Mauro Holzmann, diretor de marketing do Atlético-PR, um dos primeiros clubes a traçar planos de metas de longo prazo no país. Para ele, esse incremento nos cofres das agremiações beneficiará aos que já trabalham de maneira séria. ?Com muito ou pouco dinheiro, a gestão tem que ser feita de maneira competente. Aqueles que são bem geridos continuarão sendo e terão mais sucesso. Aqueles que não têm gestão competente, vão continuar gastando mal. Isso não muda, mas no momento em que os clubes ganharem mais receita, se for esse o caso, os clubes ganham mais um motivo para se profissionalizarem?, analisa Holzmann, cujo clube foi o único a não precisar se desfazer de um atleta em 2006 para continuar com superávit. A primeira sondagem da Record foi de R$ 500 milhões anuais pela transmissão do Campeonato Brasileiro a partir de 2009. A intenção, segundo disse Fábio Koff, presidente do Clube dos 13, à Máquina do Esporte, não seduz tanto a entidade que representa os 20 clubes de maior torcida do país. A expectativa é de que a Record aumente a oferta até chegar a R$ 1 bi.