Débora Rodrigues pode ser considerada uma celebridade. Depois de posar nua para a Playboy, em 1997, e apresentar um programa de televisão no SBT, a ex-militante do Movimento dos Sem Terra (MST) passou a receber cartas de fãs e sofrer assédio do público, principalmente por parte das crianças. Mesmo assim, essa atenção não se transformou em lucros na sua nova empreitada, a Fórmula Truck.
Piloto desde 1999, a única mulher da categoria reclama da falta de investimento por parte de empresas e crítica, principalmente, as companhias voltadas ao público feminino.
“Eu poderia ser patrocinada por empresas de produtos femininos. Acho que companhias de eletrodomésticos, limpeza e cosméticos, por exemplo. São produtos consumidos pelas mulheres, e eu tenho essa imagem de versátil, o que poderia ser positivo para esses produtos”, afirma Débora.
Apesar da reclamação, Débora é patrocinada pela Volkswagen e pelo Banco Volkswagen que, além de uma verba, fornecem o caminhão para ela correr. Os outros dois parceiros são ZF Transmissões e Cummings, fornecedores de peças da montadora alemã.
“Eu tinha estampado no meu macacão patrocínios de peças paralelas, mas a Volkswagen pediu que eu tirasse todos e deixasse apenas os fornecedores da Volks. Com isso, acabei perdendo alguns parceiros”, diz.
Nessa entrevista à Máquina do Esporte, Débora conta ainda sobre a desconfiança dos patrocinadores em apostarem nas mulheres, além do marketing pessoal que ajuda a promover também a Fórmula Truck.
Leia a seguir a entrevista completa:
Máquina do Esporte: Hoje a mulher já é respeitada dentro do automobilismo?
Débora Rodrigues: Nós deixamos de ser apenas moda, pois estamos conseguindo bons resultados. Temos mulheres que estão fazendo boas corridas, como a Bia Figueiredo [que correu em 2005 na Fórmula Renault]. Mas no começo é difícil conseguir patrocínio. Com exceções, todas começam com o “paitrocínio”.
ME: Mas existe algum tipo de preconceito por parte dos patrocinadores?
DR: Eu não diria preconceito, talvez uma resistência. Eles não acreditam ainda que a mulher possa vencer. Eu não posso reclamar, pois eu ganho muito apoio dos meus patrocinadores. Mas, se tivesse mais, poderia treinar com mais freqüência, melhorar meu caminhão e conquistar melhores resultados.
ME: A Volkswagen é a sua principal patrocinadora. É verdade que ela tenha vetado qualquer patrocínio que não fosse ligado a ela?
DR: Eu tinha estampado no meu macacão patrocínios de peças paralelas. A Volkswagen pediu que eu tirasse e deixasse apenas os fornecedores da Volks. Com isso, acabei perdendo alguns parceiros [em palestra num evento em outubro, Luiz Imparato, gerente de marketing da Volkswagen Caminhões, que faz a coordenação de marketing da equipe, justificou a mudança no macacão para aumentar o retorno de exposição dos anunciantes].
ME: O atual tricampeão da Fórmula Truck, Wellington Cirino, afirmou à Máquina do Esporte que você também consegue atrair mulheres para assistir às corridas. Como transformar esse fenômeno em negócios para você?
DR: Eu poderia ser patrocinada por empresas de produtos femininos. Acho que companhias de eletrodomésticos, limpeza e cosméticos, por exemplo. São produtos consumidos pelas mulheres e eu tenho essa imagem de versátil, o que poderia ser positivo para esses produtos.
ME: Mas pelo fato de você ser mulher acha que acaba servindo como uma espécie de ferramenta de marketing para atrair a atenção do público para a Fórmula Truck?
DR: O grande marketing que eu faço é manter o contato com o meu público. Eu sempre atendo todos que me visitam nos boxes, respondo as cartas, divulgo todas as etapas que for correr no Orkut. Mas essa atenção, que proporciona também uma visibilidade para meus patrocinadores, só acontece porque eu dou resultado.
ME: Se você fosse homem, acredita que teria mais atenção?
DR: Não é questão de sexo, só acho que as empresas que lançam produtos para as mulheres ainda não descobriram o mercado que podem ter na Fórmula Truck. Você vê diversos homens fechando patrocínios legais, com empresas de roupas, por exemplo. Porque eu não posso fazer a mesma coisa?