A cidade de São Paulo, famosa por ser a “cidade das oportunidades”, em que as pessoas fazem negócio em cada esquina, vive na última semana de dezembro uma situação atípica. Com o mundo executivo em recesso, a capital paulista, maior economia do país, vive um período de fuga de turistas e, principalmente, de moradores.
O desempenho do setor hoteleiro paulistano só não é catastrófico por causa da Corrida Internacional de São Silvestre, que desde 1924 é realizada todo ano em 31 de dezembro. A prova, que foi idealizada por Casper Líbero, hoje faz parte do calendário de eventos da cidade e consegue gerar dinheiro naquela que talvez seja a única semana “parada” de São Paulo.
“[A São Silvestre] É uma corrida que promove o Reveillon da cidade, tendo um impacto econômico e turístico considerável. A São Silvestre também projeta a imagem de São Paulo de forma saudável para vários países e para todo o Brasil porque é um evento de ampla divulgação”, afirmou recentemente o secretário de esportes do Estado, Lars Grael.
De fato, o impacto econômico da São Silvestre em São Paulo é considerável, mas até hoje não foi mensurado pela organização, que continua a cargo da Fundação Casper Líbero. Em entrevista exclusiva à Máquina do Esporte, Julio Deodoro, responsável pela organização da prova, explica como é possível receber 15 mil pessoas em poucas horas e reclama da falta de um trabalho para se criar uma pesquisa que quantifique o impacto econômico da prova na cidade de São Paulo.
Leia a seguir a entrevista com Julio Deodoro:
Máquina do Esporte: Qual a extensão que a São Silvestre tem no cenário econômico da cidade de São Paulo? Qual a importância da prova na economia paulistana?
Julio Deodoro: Entre 26 e 31 de dezembro, temos uma semana em que reunimos 15 mil participantes. Ou seja, há uma movimentação muito grande na parte econômica. Só para se ter uma idéia, são 15 mil e quinhentas camisetas, 15 mil e quinhentas medalhas, 15 mil e quinhentas sacolas, 15 mil e quinhentos números para os atletas. Além disso, temos entre mil e quinhentas e duas mil pessoas que trabalham diretamente na prova. Nesse período [antes da prova], também, nas imediações dos locais de entrega dos kits cresce o movimento do comércio local, existe ainda o uso de transporte, sem falar no setor hoteleiro…
ME: Mas existe algum número que mostre o impacto da corrida na cidade?
JD: Não tem nenhuma pesquisa em relação a isso. Já foi ventilado fazer um trabalho desses, mas até agora nenhum instituto demonstrou interesse.
ME: Qual o custo com a organização da prova [envolvendo desde pagamento de salários até premiação de atletas]?
JD: A organização da prova, de uma maneira geral, tem um custo aproximado de dois milhões de reais. Nisso estão incluídas a alimentação dos atletas [de primeiro nível] e o hotel em que eles ficam também.
ME: Como é feita a captação de recursos para a prova?
JD: Existe um acordo com a Globo, em que ela comercializa as cotas master e a gente acaba fazendo um divisão de receitas. É feito um fechamento de contas e parte vai para a fundação [Casper Líbero].
ME: Por que não se tem mais participantes na prova? Ela já chegou ao limite?
JD: Para os participantes, sim. O limite é de 15 mil pessoas. Para se ter mais gente, é preciso mudar alguma coisa na largada, modificar o trajeto.
ME: O fato de a prefeitura paulistana colocar a São Silvestre como parte das atividades do calendário da cidade é algo que mostra a importância econômica da prova?
JD: Sim. Mas isso é uma coisa que aconteceu há muito tempo, lá na década de 50 ou 60. Tanto o governador quanto o prefeito baixaram uma lei em que colocaram a São Silvestre como serviço de utilidade pública. Além desta razão, ela consta do calendário das atividades de final de ano da cidade.
ME: Mas como o poder público contribui para a realização da prova? Existe algum benefício financeiro?
JD: Não, o apoio vem por meio de fornecimento de mão-de-obra, de material, liberando as ruas, fazendo o policiamento para garantir a segurança. Além disso, há um apoio em hospitais públicos, que permite a cessão para atender as pessoas.
ME: O Vanderlei Cordeiro [medalha de bronze nos Jogos Olímpicos de Atenas após ser “atacado” por um torcedor] decidiu participar da prova neste ano. Será feito algum esquema especial de segurança para evitar o acontecimento da Grécia?
JD: Não. A São Silvestre sempre teve um esquema especial de segurança. Será mantido como sempre. Além dos policiais e militares, vamos usar a nossa segurança própria. Mas como sempre teve na prova.