Os acordes da música Wild Thing, de Lou Reed, deram o tom de mais uma façanha do basquete brasileiro nos Estados Unidos. O apelido “Coisa Selvagem” não foi em vão. A vasta cabeleira cacheada transformou o capixaba Anderson Varejão, primeiro atleta do país a chegar à final da NBA, em ídolo no templo do basquete mundial. Por duas vezes, Varejão teve seu visual homenageado nos jogos do Cleveland Cavaliers. A chamada Wig Night (Noite da Peruca) virou sensação entre os torcedores do time. O sucesso foi tamanho que a loja oficial do clube já comercializa o produto. Além disso, a camisa 17, usada pelo brasileiro, é a segunda mais vendida no local, perdendo apenas para a 23 de LeBron James, o maior ídolo da NBA atualmente. Mas todo esse sucesso do brasileiro em solo americano não deverá se traduzir em aumento da exposição do atleta em sua terra natal. Essa é a previsão de especialistas em marketing esportivo consultados pela Máquina do Esporte. “A figura do Varejão é interessante em termos comerciais, o que faz com que ele seja muito requisitado como garoto-propaganda”, afirma Rafael Plastina, diretor da Informídia Pesquisas Esportivas, empresa que mede o retorno de exposição de marcas em competições esportivas. O especialista, no entanto, não acredita que o bom desempenho do jogador, tanto em quadra, quanto comercial, tenha muita repercussão no Brasil. A explicação, segundo Plastina, está na má fase do basquete brasileiro e na pouca divulgação da NBA na TV aberta. “Como ferramenta de marketing nos EUA e nos mercados que já consomem a NBA, como a China, o impacto será muito grande, mas não acredito que chegue ao Brasil. Aqui a NBA tem um público muito restrito, já que as partidas são transmitidas apenas na TV a cabo”, diz. Em 1987, o basquete do Brasil conseguiu o maior feito de sua história ao vencer os Estados Unidos em casa na final dos Jogos Pan-Americanos de Indianápolis. A conquista foi a mola propulsora para a consolidação do basquete como um esporte popular no país. Vinte anos depois, porém, nem o êxito do gigante Varejão parece ser suficiente para resgatar o esporte no Brasil. Segundo Marcelo Palaia, proprietário da Bravo Marketing Esportivo e professor da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), para que o jogador fosse um expoente comercial no Brasil seria necessário um trabalho de marketing específico para o público brasileiro. “Se ele tivesse uma estrutura por trás, um trabalho de gerenciamento de carreira aqui, teria como capitalizar todo esse sucesso conseguido nos Estados Unidos”, afirma Palaia, que também acredita que o mau momento da seleção nacional esfriou os “nimos dos brasileiros em relação ao basquete e deve dificultar a passagem de Varejão à condição de ídolo no Brasil.