A Justiça da Bélgica condenou, em junho, Grigor Sargsyan a uma pena de cinco anos por organização criminosa, lavagem de dinheiro e fraude. Segundo revelações do jornal norte-americano The Washington Post, o imigrante armênio, apelidado de Maestro, coordenou o maior esquema de manipulação de jogos da história do tênis em benefício de apostadores de seu país natal.
Sargsyan montou um esquema que contava com 180 tenistas de 35 países. Eles recebiam propina para participar do esquema, que não necessariamente afetaria o resultado da partida, mas alguns incidentes específicos durante o jogo.
Todos os atletas não ocupavam as posições mais destacadas no ranking mundial e tinham ganhos mais limitados para pagar suas despesas de viagens e prosseguir na carreira. A operação policial começou a desmantelar o esquema em 2018.
Sargsyan conseguiu lucrar alguns milhões de dólares com o esquema. O armênio obteve ao menos US$ 9,6 milhões durante um período de dois anos. Até US$ 50 mil eram enviados aos atletas, a maioria participantes de torneios do nível Challenger, que rendem pontuação mais baixa no tênis, para manipular os jogos.
Perigo
Por ser um esporte individual, o tênis está mais vulnerável a esse tipo de incidente. Apenas uma minoria de atletas consegue curtir o glamour de vencer um Grand Slam com premiação milionária. A maioria dos tenistas tem dificuldade de bancar suas despesas no circuito internacional.
Para tentar inibir a corrupção na modalidade, a Associação dos Tenistas Profissionais (ATP) anunciou, em agosto, a criação do Baseline, um programa de garantia de renda para os atletas que figuram entre os 250 melhores do ranking mundial.
O programa garante um piso de US$ 300 mil aos 100 primeiros do ranking mundial, e US$ 75 mil para o restante dos atletas pagarem despesas com treinamentos, viagens e hospedagens para a temporada.
“Ainda não é o suficiente”, escreveu o tenista Nick Kyrgios no X, ex-Twitter. O australiano atualmente é o 469º colocado do ranking mundial.
Punições
Por conta do esquema liderado por Sargsyan, a Unidade de Integridade do Tênis (TIU, na sigla em inglês) divulgou uma série de suspensões vitalícias no esquema que foi descrito como “um dos maiores arquivos de manipulação de resultados já surgidos no mundo”, mas apenas “a ponta do iceberg”.
O marroquino Younès Rachidi, ex-tenista que recrutava outros jogadores para o esquema, foi banido do esporte pelo “maior número de ofensas cometidas por um indivíduo já detectado”, segundo comunicado da ATP.
Os irmãos egípcios Karim Hossam, de 29 anos, e Youssef Hossam, de 25, tenistas que participaram do esquema, também foram expulsos da modalidade. Sobre Youssef, a TIU (atualmente Agência Internacional de Integridade do Tênis) afirmou que “conspirou com outras pessoas para realizar uma extensa ação de corrupção relacionada a apostas nos níveis mais baixos do tênis profissional”.
Essa agência foi a mesma que, em 2020, baniu dois tenistas brasileiros do circuito: João Souza, o Feijão, que chegou a ser número 1 do Brasil e 69º do mundo, e Diego Matos. Ambos também levaram multa. Pertti Vesantera, ex-treinador de Feijão, foi suspenso por cinco anos e multado em US$ 15 mil por participação em um esquema de manipulação de jogos. Ele estará apto a voltar ao esporte em 2025.