O caminho parecia de conquistas para Matheus Dellagnelo. Em 2011, o velejador conquistou o título da classe sunfish no Mundial de Curaçao. No mesmo ano, o catarinense ainda ganharia o ouro nos Jogos Pan-Americanos de Guadalajara. Depois, no ano seguinte, decidiu migrar para a laser, buscando uma vaga olímpica nos Jogos do Rio 2016, já que a sunfish não é uma classe olímpica.
“Nessa época, eu estava viajando com o Robert Scheidt e o Bruno Fontes. Éramos os três da equipe brasileira de laser”, rememorou o velejador.
“A equipe olímpica estava começando a afunilar para 2016. À época, o COB [Comitê Olímpico do Brasil] me chamou para conversar no Rio e me disseram que, como era a última Olimpíada do Robert no Rio, era ele que iria. Mas que iriam investir em mim para Tóquio 2020. Estava em 2014. Foi um baque. Voltei para casa e achei que seis anos era muito tempo para esperar”, contou Dellagnelo.
Estudos
A desilusão no esporte fez sua energia se transferir para os estudos. A essa altura, Dellagnelo já havia se formado em engenharia de materiais na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), fazendo o curso paralelamente à carreira esportiva. Também tinha passado por um período de estágio em Hong Kong. Em seguida, ganhou uma bolsa de estudos do Ciências Sem Fronteiras, programa do Governo Federal, para fazer um MBA em gestão de engenharia na Universidade do Sul da Califórnia.
“Depois que voltei ao Brasil, começamos a Indicium. Estava velejando só por lazer, aos finais de semana. Mas, de 2018 para 2019, ia ter Pan [Jogos Pan-Americanos de Lima, no Peru, em 2019] e resolvi dar um pouquinho de gás nisso. Acabei me classificando e ganhei um novo ouro”, lembrou o atleta.
Aprendizado no esporte
Estava cada vez mais difícil tocar a carreira de atleta paralelamente à empresa de dados, que havia criado com três sócios e em que ocupava o cargo de CEO. Os sócios eram Isabela Blasi (diretora de novos negócios), Daniel Avancini (diretor de dados) e o irmão Vitor Avancini (diretor de tecnologia).
“Mas aí foi uma loucura. Não fiz a preparação adequada. Apesar de eu ter ido para lá sem pressão, porque não estava treinando muito, chego lá e coloco pressão em mim. Na volta do Pan-Americano, decidi que era hora de focar na empresa”, disse Dellagnelo, que ainda destacou que o esporte em geral e a vela em particular lhe forjaram algumas qualidades que aplicou na vida corporativa.
“O esporte te ensina a ter determinação e foco. O desejo de vitória que eu tinha lá atrás de ganhar o ouro no Pan-Americano é o mesmo que tenho hoje de atingir determinada meta na empresa”
Matheus Dellagnelo, CEO da Indicium e bicampeão pan-americano de vela
“Acho que isso é meio padrão para os atletas, de levar essa disciplina, o foco e a vontade de vencer para a vida profissional”, explicou.
“Por outro lado, a vela é um esporte muito estratégico. Você precisa analisar o que vai acontecer e que decisão tomar. É preciso analisar quais as variáveis e como isso impacta na competição. Tiro muito aprendizado disso no mundo dos negócios”, acrescentou.
Faturamento
A Indicium foi fundada em 2017 a partir de investimentos da família de Isabela Blasi, uma das sócias do empreendimento. Mas, a partir do ano seguinte, a empresa foi se consolidando.
“Depois de seis meses, a empresa já atingiu o break even e já cresceu em 2018. Crescemos inclusive durante a pandemia. Foi um setor que foi impactado positivamente pela pandemia. Estamos aprendendo a como ser uma empresa no mundo mais normal que vivemos hoje”, comentou Dellagnelo.
“Eu era um dos caras que não acreditava no trabalho 100% remoto. Achava que não funcionava. A pandemia me trouxe o aprendizado de que o trabalho remoto bem estruturado funciona”
Matheus Dellagnelo, CEO da Indicium e bicampeão pan-americano de vela
Atualmente, a empresa já atua em 20 países e faturou R$ 14,9 milhões em 2022. Para este ano, segundo o executivo, a expectativa é de um faturamento de R$ 32 milhões. Entre os clientes da Indicium estão a Fundação Bill e Melinda Gates, Hyland, Reps & Co, Burger King e Stellar.
Em 2023, a empresa possui cerca de 250 funcionários espalhados por Brasil e Estados Unidos, onde a Indicium abriu um escritório neste ano em Delaware (estado que fica no nordeste do país).
“Hoje dá para resumir nossos clientes em 75% no Brasil e 25% nos Estados Unidos”, resumiu Dellagnelo.