Em fevereiro deste ano, o Corinthians surpreendeu o mercado e seu torcedor ao anunciar que não seria o responsável pela sua loja oficial na internet. Sete meses depois, não mais mistério, e o clube do Parque São Jorge ainda tem a companhia do Internacional no rol de parceiros da Netshoes, empresa especializada em serviços de e-commerce que ambiciona o domínio do futebol brasileiro.
Em entrevista exclusiva à Máquina do Esporte, Roni Cunha Bueno, diretor de marketing da empresa, explica aonde quer chegar. A idéia é comandar as lojas online dos principais clubes brasileiros, e o executivo não vê adversários no caminho.
?A gente tem esse plano sim, e estamos colocando ele em prática. Acho que os responsáveis não estão dando a devida atenção ao setor, e nós temos o melhor serviço para oferecer?, disse Bueno.
O caminho já está sendo traçado. Atualmente, além dos clubes já citados, a Netshoes é a responsável pelo setor de calçados esportivos e futebol da versão online das Lojas Americanas. Além disso, também comanda o e-commerce da TV Esporte Interativo, da New Balance e da Asics.
Para estender ainda mais seus braços, a companhia só tem de livrar-se de uma mentalidade atrasada que reina entre os possíveis parceiros. A idéia de que a loja presencial é mais lucrativa que a online, predominante entre as agremiações nacionais, é questionada por Bueno.
Confira a íntegra da entrevista:
Máquina do Esporte: Explica para a gente como funciona o trabalho da Netshoes.
Roni Cunha Bueno: A Netshoes é líder em artigos esportivos na internet. Temos 70% do mercado. Nosso foco e diferencial é a qualidade do serviço. A gente trabalha para que o usuário tenha uma experiência única nos sites. Por isso, oferecemos o parcelamento, a entrega em casa, distribuição por todo o Brasil e a atenção ao consumidor. A gente atende todo mundo com variedade e facilidade.
ME: O que vocês oferecem é a interface entre o produto e o consumidor? A logística?
RB: É exatamente isso. A gente leva uma solução que ele só vai encontrar aqui. O clube sozinho vai sofrer com a falta de know how e de todos as propriedades do e-commerce que a Netshoes cumpre com toda a competência. Entregar em todo o Brasil com dois dias utéis não é fácil. Poucos e-commerces tem o nível de excelência que a gente tem
ME: Então não dá para ver a Netshoes como uma loja, certo?
RB: A gente chama de loja porque é a interface do usuário com o site. O consumidor só vê os produtos e as possibilidades de compras, mas por trás daquilo tem todo um negócio, com aprovação de crédito e logística. Esse know how que desenvolvemos durante os anos é que estamos disponibilizamos para o clube. A gente projeta toda a loja, compramos todos os produtos com a marca, trazemos para o nosso estoque e implementamos o serviço. É o que eu disse, a gente quer que o torcedor do Corinthians tenha uma experiência única com a marca, e a mesma coisa com o colorado. O tênis que a Nike fez para o Corinthians, por exemplo, é um produto que você só encontra na shoptimão e na loja oficial. Outra vantagem que veio com o e-commerce é a pré-venda. A gente vendeu todo o primeiro lote da camisa roxa assim. O torcedor entrou antes, fez a compra dele e foi o primeiro a receber em casa.
ME: A estratégia de vocês tem alguma semelhança com o que a Roxos & Doentes faz em termos de lojas presenciais?
RB: O serviço da Roxos é, na verdade, complementar ao nosso. A gente não tem vontade de ter uma loja fixa. Não é o nosso core business. A gente é o melhor da internet. É neste sentido que estamos indo. Queremos todos os principais times do país. Em determinado momento, a pessoa vai optar por ir à loja presencial ou pela comodidade do e-commerce.
ME: Então, em determinado momento, os dois conceitos podem competir?
RB: Eu acho que o público é diferente. Quem vai na loja física tem uma vontade diferente daquela de quem compra pela internet, e eu acho que é o entretenimento. Ele vai na loja porque está ali presente, se divertindo, porque é um passeio muito bacana. É bacana ir no museu do Corinthians e depois comprar alguma coisa na loja, mas o consumidor da internet quer facilidade.
ME: Dentro desse conceito, o serviço de vocês ainda é mais proveitoso que os outros porque vocês deixam o clube participar dos lucros, certo?
RB: A gente gera receita para o clube. O clube que tá sem e-commerce está perdendo dinheiro. E isso não só em licenciados. Na loja do Corinthians tem tênis, chuteiras e outros produtos que estão no mercado convencional, e que vai trazer renda para o clube.
ME: E o que pode atrapalhar esse plano de domínio de vocês?
RB: A gente não vê muito empecilho em nada, na verdade. O que a gente sente um pouco é a falta de visão de que a loja virtual é diferente da loja física. O clube já tem a loja física e acredita que assim já está bom. Ele não dá tanto valor ao e-commerce em alguns casos, quando, na verdade, as lojas virtuais estão faturando igual ou até mais que as convencionais.