A Confederação Sul-Americana de Futebol (Conmebol) resolveu elevar o tom e cobrar medidas concretas da Procuradoria-Geral da República do Paraguai, em relação às denúncias de suposta lavagem de dinheiro envolvendo o ex-presidente da entidade, Nicolás Leoz (morto em 2019, aos 90 anos de idade), e o Banco Atlas SA.
O caso veio a público na esteira da divulgação do escândalo de corrupção na Federação Internacional de Futebol (Fifa), que ficou conhecido como Fifagate.
Leoz presidiu a Conmebol entre 1986 e 2013. Antes de deixar o comando da entidade, já aparecia envolvido em algumas denúncias de corrupção. Uma delas, surgida em 2011, dava conta de que ele teria exigido ser nomeado cavalheiro honorário da corte britânica, em troca do apoio à candidatura inglesa para a Copa do Mundo de 2018, que acabaria sendo realizada na Rússia.
Um assessor de Leoz ainda teria condicionado o possível apoio do cartola paraguaio à candidatura inglesa em troca de que a FA Cup, mais antiga competição de futebol do planeta, fosse batizada de Nicolás Leoz Cup.
Em 2013, Leoz chegou a ser reeleito para o sexto mandato consecutivo na Conmebol, mas não resistiu às denúncias e renunciou (ele também deixou o cargo na Fifa).
A ação que apurou as suspeitas de lavagem de dinheiro contra Leoz e o Banco Atlas foram embasadas em uma auditoria forense realizada pela Conmebol. Em sua nota, a entidade fez questão de frisar que foi “a única confederação de futebol a ter realizado tal procedimento”, em meio ao escândalo de corrupção generalizada.
No documento, a Conmebol cobrou urgência do órgão que comanda o Ministério Público (MP) do Paraguai, no sentido de retomar a ação criminal.
“Depois de ordenar a abertura de uma investigação criminal, o Ministério Público reuniu provas sobre o assunto por meio de ações de busca e apreensão no Banco Atlas S.A. e na Superintendência de Bancos. Tais ações supõem que o órgão investigador considera que a evidência de um ato punível poderia ser encontrada em determinados locais”, afirma a nota.
De acordo com a entidade, o “Ministério Público ficou inexplicavelmente em silêncio e abandonou qualquer outra iniciativa destinada a esclarecer a denúncia, apresentada em tempo e forma pela Conmebol em 4 de fevereiro de 2021”.
“É oportuno recordar que a primeira denúncia foi feita em 2017”, diz a nota da Conmebol.
A auditoria forense contratada pela entidade, sob a gestão de seu atual presidente, Alejandro Domínguez, foi realizada em 2016 e localizou, na Suíça, o equivalente a US$ 37 milhões, que seriam mantidos em contas pessoais de Leoz e do ex-secretário-geral Eduardo Deluca.
Até 2020, o montante recuperado pela Conmebol no Paraguai, na Suíça e nos Estados Unidos, relativo aos supostos desvios de dinheiro praticados na gestão de Leoz, era de US$ 53 milhões.