Com uma estratégia focada na universalização, o Comitê Brasileiro de Clubes (CBC) tem avançado, nos últimos anos, na busca por maior capilaridade no país.
“Hoje, conseguimos atingir a meta de estar nas cinco regiões do Brasil”, comemora Emerson Luiz Appel, gerente de esportes da entidade, que conta, atualmente, com 1.057 clubes associados.
Em entrevista exclusiva à Máquina do Esporte, o dirigente explicou como foi feito esse trabalho de expansão do CBC e também detalhou como funciona a aplicação dos recursos que a entidade recebe, provenientes da Lei 13.756 de 2018 e que garantem especificamente ao Comitê o equivalente a 0,46% do que é arrecadado com os prognósticos numéricos de loterias federais.
Para se ter uma ideia do que isso representa, esse tipo de aposta administrada pela Caixa movimenta em torno de R$ 17,2 bilhões ao ano, rendendo ao CBC uma fatia que varia de R$ 95 milhões a R$ 110 milhões.
Appel explica a legislação permite às entidades destinarem até 25% dessa quantia para sua própria administração. “Hoje, trabalhamos com uma meta de 20% para esse tipo de investimento, mas, na prática, executamos 13%. Dessa forma, sobram mais recursos para serem destinados aos clubes”, afirma.
Passagens aéreas
O universo dos clubes associados ao CBC, a exemplo do próprio Brasil, também apresenta enormes disparidades. A entidade tem em suas fileiras desde potências olímpicas como Flamengo (RJ), Minas Tênis (MG) e Pinheiros (SP), até instituições pouco conhecidas e que convivem com estruturas ainda precárias.
A legislação prevê que o CBC pode tanto repassar o dinheiro da loteria aos clubes quanto realizar a execução direta. Para que uma instituição receba esse recurso, porém, ela precisa ter o status de filiada plena do Comitê, além de possuir toda a documentação necessária, como certidões negativas de débitos fiscais, previdenciários e trabalhistas.
Nesse caso, os clubes podem investir tanto na aquisição de equipamentos e material esportivo (em compras que são fiscalizadas pelo CBC), como também em recursos humanos.
Já para os clubes com status de vinculados ou aspirantes, o CBC realizada a execução direta dos recursos das loterias. Hoje, o principal investimento feito pela entidade é na compra de passagens aéreas para atletas, times, comissões técnicas e árbitros que participam dos 260 Campeonatos Brasileiros de diferentes modalidades esportivas.
“Compramos diretamente das companhias aéreas”, explica Appel. São cerca de 61 mil passagens aéreas anuais e R$ 55 milhões investidos.
A aquisição das passagens é feita por meio de edital de credenciamento para empresas aéreas interessadas. “Na última auditoria realizada pelo Tribunal de Contas da União, recebemos apontamento de boas práticas, por conta desse modelo que adotamos”, afirma Appel.
Evolução
Quando começou a receber recursos públicos, em 2011, o Comitê executava os repasses para 17 clubes que possuíam as certidões. Com o passar do tempo, a entidade conseguiu ampliar sua rede de associados que recebem investimentos, ao redor do Brasil.
“Hoje, temos clubes dos 26 estados e do Distrito Federal recebendo recursos ou investimentos diretos nossos”, diz o dirigente. Em Santa Catarina, por exemplo, já são 117 instituições, enquanto na região Norte o CBC totaliza 77 associados.
Clubes aspirantes não possuem qualquer despesa para com o Comitê. A única obrigação é usar o selo do CBC em suas publicações e eventos oficiais.
O apoio oferecido pela entidade contempla a participação em competições oficiais que integram a lista do programa Bolsa Atleta, do Governo Federal, com atletas a partir de 14 anos. “Dessa forma, não há risco de colocarmos recursos em campeonatos que não tenham um alto nível”, explica.
Considerando-se todos os editais relacionados aos recursos distribuídos pelo CBC, desde 2014, eles já movimentaram quase R$ 890 milhões até o momento.
Desse total, R$ 237 milhões foram investidos em equipamentos e materiais esportivos. Outros R$ 351 milhões foram destinados a competições, enquanto os R$ 301 milhões restantes foram para recursos humanos.
“Atualmente, quase 800 treinadores são pagos com recursos que encaminhamos. Sem esse dinheiro, o sistema de Campeonatos Brasileiros Interclubes estaria implodido”, pondera Appel.
Paris 2024
Na visão do dirigente, a importância desse investimento feito com recursos públicos nos clubes formadores pode ser observada no próprio desempenho do Brasil nos Jogos Olímpicos e em outros grandes eventos internacionais.
“Em Tóquio 2020, 88% da delegação brasileira era composta por atletas de clubes que recebiam esses recursos. No Pan-Americano de Santiago [realizado no Chile, no ano passado], 92% dos nossos representantes eram de clubes. Das 205 medalhas que nosso país conquistou na ocasião, 162 eram de atletas de clubes”, disse.
Para os Jogos Olímpicos de Paris 2024, a participação de atletas de clubes formadores, na delegação brasileira, já ultrapassa 85%, de acordo com Appel.