O noticiário esportivo recentemente foi tomado por contratações ou dispensas de CEOs. O Corinthians apresenta oficialmente nesta quarta-feira (3) Fred Luz como novo CEO. O executivo já exerceu esse mesmo cargo no Flamengo entre 2014 a 2018.
Agora, tem a difícil missão de gerir um clube assolado por dívidas, em crise política –o presidente Augusto Melo a todo momento é ameaçado de impeachment— e crise técnica, com o time na zona do rebaixamento do Brasileirão.
“Por que aceitei? Porque o Corinthians é monumental. Tive a oportunidade de atuar no Flamengo, e poder trabalhar no Corinthians é uma dádiva. Acredito piamente que temos tudo para fazer um grande trabalho”, afirmou Luz, durante entrevista coletiva de apresentação na nova função, ao ser questionado sobre o novo desafio profissional.
Não é só o Corinthians que enfrenta problemas dentro e fora de campo e apelou para a figura de um CEO. Na semana passada, Paulo Bracks assumiu o mesmo cargo no Santos. O profissional, que já conta com experiências de gestão no América-MG, Internacional e Vasco, terá que gerir um clube que busca retornar à Série A do Brasileirão em 2025.
No momento, o time da Vila Belmiro é o vice-líder, com 22 pontos. No entanto, a Segundona tem sido bastante equilibrada. A diferença do Santos para o Novorizontino, outro time que conta com um CEO e está em 11º lugar, é de apenas 3 pontos.
Instabilidade
O crescimento de importância do cargo também gera instabilidade. As mudanças de clube, antes mais comuns entre os treinadores, também têm atingido essa função.
O Vasco, um dos ex-clubes de Paulo Bracks, atual Santos, por exemplo, está sem CEO desde junho, quando Lúcio Barbosa pediu demissão após o clube associativo recuperar na Justiça o controle da SAF das mãos da 777 Partners.
Não é só o time de São Januário que conta com vaga aberta no mercado. Ontem, terça-feira (2), o Coritiba comunicou a saída de Carlos Amodeo como CEO da SAF do time. O executivo, ex-Grêmio, que estava no Coxa desde maio de 2023, liderou a transição do clube associativo para as mãos da Treecorp, investidora que adquiriu 90% da SAF do Coxa.
“Foi uma honra ter a oportunidade de participar ativamente deste ambicioso projeto de restruturação e transformação de um dos mais tradicionais clubes brasileiros, com uma torcida apaixonada e que nunca abandona”, afirmou Amodeo.
Recentemente, o Cruzeiro também passou por mudança na gestão e troca de CEO. Ronaldo Fenômeno vendeu sua participação majoritária na SAF do clube mineiro para o empresário Pedro Lourenço, o Pedrinho BH.
Com a troca de dono, Gabriel Lima, o antigo CEO, deixou o posto, agora ocupado por Alexandre Mattos, com passagens por cargos de gestão em América-MG, Palmeiras, Atlético-MG, Athletico e Vasco, além do próprio Cruzeiro. De novo, a semelhança com o currículo de um técnico não é mera coincidência.
SAF x clube associativo
Antes uma função rara nos clubes, o executivo que comanda as decisões estratégicas da agremiação já se tornou rotina entre os 40 times que disputam as Séries A e B do Brasileirão. Segundo levantamento da Máquina do Esporte, 57,5% das equipes já contam com a figura do CEO ou um executivo com função equivalente para comandar as ações.
E não são apenas as agremiações que se tornaram Sociedade Anônima do Futebol (SAF), que passam a ter gestão semelhante às empresas, que optam por esse tipo de cargo. Mesmo em clubes do modelo associativo a figura do CEO passou a ser mais comum.
Atualmente, além dos já citados Corinthians e Santos, Grêmio e Internacional, arquirrivais gaúchos que seguem o tradicional modelo associativo, contam com CEOs em seu organograma. Recentemente, Márcio Ramos (Grêmio) e Giovane Zanardo (Inter) estiveram presentes no anúncio da união dos clubes em prol da reconstrução do Rio Grande do Sul, assolado por enchentes.
Por outro lado, Flamengo e Palmeiras, modelos de gestão e conquistas nos últimos anos, que também seguem o modelo associativo, não têm um executivo profissional em sua direção, embora, na prática, Rodolfo Landim e Leila Pereira, os atuais presidentes de cada um, assumam essa função.
Há clubes em que não há o cargo de CEO propriamente dito, mas existe uma função equivalente. É o caso do América-MG, que tem Dower Araújo como superintendente geral.
Botafogo-SP e Cuiabá, ambos SAFs, contam com Adalberto Baptista e Cristiano Dresch, respectivamente, como presidentes do Conselho de Administração.
O Operário de Ponta Grossa (PR), por sua vez, que disputa a segunda divisão nacional, tem Álvaro Góes como presidente do grupo gestor. Na prática, exercem função semelhante.
Função
Mas, afinal, o que faz um CEO?
“Mal comparando com um sistema parlamentarista, o CEO seria o primeiro-ministro, responsável por dirigir de fato a organização esportiva e tomar as decisões estratégicas”, explica Ary Rocco Júnior, professor de gestão esportiva na Escola de Educação Física e Esporte da USP (EEFE-USP) e ex-presidente da Associação Brasileira de Gestão Esportiva (Abragesp).
“E o presidente do clube seria o chefe de Estado, um cargo mais protocolar, eleito pelo estatuto do clube”, acrescenta Rocco Júnior, que também dá aula na CBF Academy.
O CEO é o responsável por conduzir as decisões estratégicas do clube nas mais diversas áreas, seja de contratações para o futebol (que normalmente atraem mais holofotes de torcida e imprensa) até decisões comerciais, de marketing e publicidade, e gestão das finanças, buscando manter as dívidas em patamar aceitável e buscando novas formas de criação de receitas.
“Para esse modelo de CEO funcionar, seja em clube associativo ou em uma SAF, é necessária uma mudança de mentalidade”, acredita Rocco Júnior, que também é professor do curso de Gestão do Futebol da CBF Academy.
“É preciso que o ambiente seja profissional e que o dono da SAF ou o presidente estabeleça metas e cobre resultados”, completa.