Em meio às polêmicas sobre a chegada dos uniformes aos atletas do Time Brasil que disputarão as Olimpíadas de Paris 2024, as marcas de material esportivo fornecedoras tanto do Comitê Olímpico do Brasil (COB) como das principais confederações divulgaram que a responsabilidade pela entrega é das entidades esportivas.
Nos últimos dias, viralizou nas redes sociais um vídeo de atletas do vôlei recebendo seus kits em sacos beges etiquetados. As atletas não esconderam sua decepção com o pacote pouco glamouroso.
“Chegaram nossos uniformes das Olimpíadas. Vamos fazer um recebidos? Um unboxing?”, ironizou a central Thaisa. No vídeo, também aparece a ponteira Gabi.
Vôlei
Segundo a Riachuelo, responsável pelo fornecimento do material esportivo às seleções de vôlei e vôlei de praia por meio de sua marca BodyWork, a responsabilidade de entrega do equipamento às jogadoras é da Confederação Brasileira de Vôlei (CBV).
“A Riachuelo não é responsável pela logística dos uniformes da CBV aos atletas. A quantidade de peças por atleta também é definida pela CBV”, informou a Riachuelo, por meio de sua assessoria de imprensa.
A empresa também esclareceu que não fornece os tênis para as seleções masculina e feminina de vôlei de quadra.
“Quanto aos calçados, depende do patrocínio de cada atleta”, afirmou a Riachuelo.
Outro problema que pode acontecer em uma modalidade como o vôlei é quanto ao tamanho do equipamento disponibilizado aos jogadores. Mas, segundo a Riachuelo, a empresa fornece boa variedade de vestimentas.
“A grade dos uniformes dos atletas de vôlei é estendida e vai do P ao 4G”, explicou a empresa.
A CBV negou que as vestimentas enviadas no saco bege tenham sido as de competição, que é de sua responsabilidade. O material seriam os uniformes de viagem e para a cerimônia de abertura, também confeccionados pela Riachuelo, mas enviados aos atletas pelo COB antes do deslocamento a Paris.
De fato, em post publicado no Instagram, no último domingo (21), o COB informou que esse material teria sido mandado em “ecobags, o que parece ser o caso do vídeo do vôlei”. Questionado pela Máquina do Esporte se esse material, criticado pelas atletas, foi de fato encaminhado pelo comitê, a entidade não confirmou a informação.
Time Brasil
O enxoval do Time Brasil para situações fora de competição é fornecido pelo COB, em uma operação de logística que conta com dados individualizados de tamanhos das peças e quantidades padronizadas em cada kit.
Ainda no Brasil, os competidores recebem os uniformes de viagem e da Cerimônia de Abertura, fornecidos pela Riachuelo, que também é parceira da CBV, e pela Havaianas. Em Paris, toda a delegação ganha as malas da Peak, fornecedora de material esportivo do COB, com mais de 30 itens (masculino ou feminino).
Segundo o COB, os tamanhos têm uma variação ainda maior do que no vôlei: vão do PP ao 4G para as mulheres, e do P ao 7G para os homens.
A Peak também veste os atletas brasileiros de boxe, canoagem, levantamento de peso, pentatlo moderno, remo e tiro com arco, cujas confederações não contam com fornecedor próprio.
“Essas peças são entregues nas malas dos atletas, que recebem o enxoval da delegação mais os uniformes de competição”, informou o COB, por meio de sua assessoria de imprensa.
Atletismo
Outras reclamações que causaram polêmica vieram de competidores do esporte-base das Olimpíadas, descontentes com o equipamento enviado pela Puma, fornecedora da Confederação Brasileira de Atletismo (CBAt).
Izabela Rodrigues, classificada no lançamento de disco, afirmou que recebeu apenas peças masculinas, já que a Puma não teria equipamentos femininos em tamanho maior, adequados ao corpo da atleta, que mede 1,75m e pesa 118kg. Em um vídeo publicado em sua conta no Instagram, a lançadora reclamou da empresa.
“Estou bem chateada, porque eu pedi algumas peças masculinas e me deram todas as [peças] masculinas. Femininas eles não me deram nada”, afirmou a atleta, campeã mundial Sub-20 em 2014 e ouro na prova nos Jogos Pan-Americanos de Santiago 2023.
Outra bronca pública veio do decatleta José Fernando Santana. Balotelli, como é conhecido, criticou a fornecedora por ter recebido poucas peças de roupa para as dez provas que participa em dois dias de disputa.
“Vocês não têm ideia do quanto foi brochante receber o material da seleção. Sempre achei que, na Olimpíada, receberíamos uma mala de materiais, com tênis, roupas e sapatilhas. Mas parece que não é bem assim para nós”, afirmou o atleta, em sua conta no X.
No decatlo, o atleta disputa dez provas em dois dias. A cada prova, os competidores marcam pontos conforme o índice técnico das marcas que conseguem. Quem conquista mais pontos fica com o ouro.
No primeiro dia, os participantes disputam os 100m, salto em distância, arremesso de peso, salto em altura e 400m.
“Assim que acabarem as provas do primeiro dia, irei voltar para a Vila [Olímpica] e lavar logo meu material ou competir com o [material] sujo [no segundo dia]”, ironizou o decatleta.
No segundo dia, os atletas correm os 110m com barreiras e, em seguida, participam do lançamento de disco, salto com vara, lançamento de dardo e finalizam a competição com os 1.500m, quando é comum os atletas deitarem na pista após a linha de chegada, extenuados pelo desgaste do dia.
Puma
Procurada para comentar o tema, a Puma respondeu que trabalha para solucionar o problema de Izabela.
“A Puma confirma que a atleta Izabela Rodrigues da Silva receberá o vestuário necessário para disputar os Jogos Olímpicos de Paris. Pedimos desculpas a ela e desejamos muito sucesso na competição”, afirmou a marca.
“A Puma é uma marca inclusiva e desenvolve roupas para atletas de diversos tamanhos, do PP ao 4GG”, acrescentou.
A empresa também esclareceu que não tem obrigação contratual de fornecer calçados aos atletas, que podem utilizar os seus preferidos ou das marcas com quem possuem contratos pessoais.
“A empresa fornece calçados para atletas que têm contrato direto com a marca. No Brasil, a Puma possui três atletas contratados na equipe de atletismo”, informou a marca de material esportivo, referindo-se a Vitória Rosa (100m), Rafael Pereira (110m com barreiras) e Renan Gallina (200m e 4x100m).
A CBAt, por sua vez, afirmou que os problemas relatados pelos atletas são “pontuais” e já estão sendo resolvidos.
“Com relação às peças, a quantidade é definida considerando as especificidades e as exigências de cada prova”, afirmou a confederação.
“Eventuais ajustes no número de peças que compõem o enxoval de competição sempre são resolvidos em contato direto com a CBAt, lembrando que os atletas têm comunicação aberta com os representantes da CBAt”, acrescentou a entidade.
Esportes aquáticos
A Speedo, fornecedora de material esportivo da Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos (CBDA), que não foi alvo de reclamações de atletas, contou que a responsabilidade de entrega dos kits aos atletas é da entidade nacional.
A quantidade de peças também é definida pela CBDA, que competirá nas Olimpíadas em três modalidades: águas abertas, natação e saltos ornamentais. Nado artístico e polo aquático não se classificaram para Paris 2024.
“Depende do evento. Para o Swim Camp, antes [das Olimpíadas] de Paris, a confederação nos solicitou 6 camisetas, 3 bermudas, agasalho, mochila, 4 toucas, 2 sungas e 2 camisas polo para cada atleta”, informou a Speedo.
Quanto aos tamanhos, a marca também conta com os dados de cada competidor para que o material esportivo seja adequado a cada um.
“Os uniformes têm uma medida específica para nadadores, uma vez que os atletas têm as costas/ombros maiores e as pernas não são tão fortes como o tronco e braços”, esclareceu a empresa.
Adidas
Parceira da Confederação Brasileira de Skate (CBSk) e da Confederação Brasileira de Boxe (CBBoxe), a Adidas informou que o fornecimento de material esportivo aos atletas é feito de maneira indireta, como ocorre com a Speedo nos esportes aquáticos. A Adidas não foi alvo de reclamações.
“As parcerias preveem o envio dos produtos diretamente para as confederações, que, por sua vez, fazem o repasse dos kits aos atletas, considerando as necessidades individuais de tamanho e numeração”, informou a marca alemã.
Nike
A Máquina do Esporte também tentou ouvir a Nike, que possui contratos com a Confederação Brasileira de Futebol (CBF), que terá a seleção feminina em campo, e a Confederação Brasileira de Basquete (CBB), que contará com o time masculino em quadra.
A empresa norte-americana, que não enfrentou reclamações públicas de atletas, não respondeu aos questionamentos da reportagem. O espaço permanece aberto a manifestações.
Ministério do Esporte
O desgaste com a polêmica foi tão grande que até o Ministério do Esporte (Mesp) soltou um comunicado desmentindo que tenha alguma responsabilidade em relação às reclamações dos atletas.
“É falsa a informação que o Ministério do Esporte (Mesp) seja responsável por confeccionar e fornecer kits de uniforme e equipamentos para a delegação brasileira que irá competir nos Jogos Olímpicos de Paris”, afirmou a pasta, em nota oficial.
“O Comitê Olímpico do Brasil (COB) provê as roupas de viagens, desfile, cerimônia de abertura e dia a dia na Vila Olímpica para todos os atletas brasileiros. O COB também oferece os uniformes de treinos e competições das delegações de remo, levantamento de peso, tiro com arco, pentatlo moderno e canoagem. Já as vestimentas das demais modalidades ficam a cargo das confederações de cada esporte”, acrescentou o ministério.