Sonho de consumo dos principais clubes brasileiros (alguns, como Palmeiras, Flamengo e Fluminense, já estão até classificados), o Mundial de Clubes de 2025 passou a representar uma séria dor de cabeça para a Federação Internacional de Futebol (Fifa) justamente na Europa, seu principal mercado global, onde estão sediadas as mais badaladas e competitivas ligas nacionais do planeta.
O problema enfrentado pela entidade máxima do futebol reside justamente nessas ligas de clubes e também nas associações de atletas.
Conforme noticiou a Máquina do Esporte no mês passado, a Federação Internacional das Associações de Futebolistas Profissionais (Fifpro) e suas entidades associadas resolveram judicializar o debate em torno da competição, marcada para ocorrer entre 15 de junho e 13 de julho do ano que vem, nos Estados Unidos, reunindo 32 times.
A Associação dos Futebolistas Profissionais (PFA, na sigla em inglês), da Inglaterra, e a União Nacional de Jogadores Profissionais, da França, haviam ingressado, com apoio da Fifpro, com uma ação no Tribunal do Comércio de Bruxelas, na Bélgica, solicitando que a questão seja analisada pelo Tribunal de Justiça da União Europeia (TJUE).
Agora, a PFA ganhou o apoio nessa disputa de ninguém menos que a Premier League, liga nacional de futebol mais rica do planeta, que, juntamente da PFA, acusa a Fifa de tomar “decisões unilaterais” sobre o calendário internacional de jogos, que agora estaria “além da saturação”.
Entenda a polêmica
A polêmica reside no fato de que as competições da Fifa e das confederações continentais costumam ocorrer nos meses de junho e julho, época que coincide com o período de férias no futebol europeu.
Atualmente, os principais atletas e clubes já estão sujeitos a torneios como Copa do Mundo e copas continentais, a cada dois anos.
Com o Mundial de Clubes de 2025, porém, jogadores terão de encarar três anos ininterruptos sem férias, já que em 2024 foram realizadas a Copa América e a Euro e em 2026 haverá a Copa do Mundo, que terá como sedes o Canadá, os Estados Unidos e o México.
A queixa conjunta da Premier League e da PFA foi apresentada à Comissão Europeia pelos órgãos European Leagues (que representa as ligas profissionais no continente) e FifPro Europe (sindicato dos atletas).
O argumento é que a situação teria prejudicado “os interesses econômicos das ligas nacionais e o bem-estar dos jogadores”. As entidades alegam que o fato de a Fifa atuar como reguladora e organizadora da competição representa um conflito de interesses e afirmam não ter sido consultadas acerca das recentes mudanças no calendário, como a introdução de uma Mundial de Clubes com 32 equipes.
O calendário internacional de jogos está agora além da saturação e se tornou insustentável para as ligas nacionais e um risco para a saúde dos jogadores.
As decisões da Fifa nos últimos anos favoreceram repetidamente suas próprias competições e interesses comerciais, negligenciaram suas responsabilidades como órgão regulador e prejudicaram os interesses econômicos das ligas nacionais e o bem-estar dos jogadores.
As ligas nacionais e os sindicatos de jogadores, que representam os interesses de todos os clubes e de todos os jogadores em nível nacional, e regulam as relações trabalhistas por meio de soluções acordadas coletivamente, não podem aceitar que os regulamentos globais sejam decididos unilateralmente.
A ação legal é agora o único passo responsável para as ligas europeias e sindicatos de jogadores protegerem o futebol, seu ecossistema e sua força de trabalho das decisões unilaterais da Fifa.
Comunicado conjunto da European Leagues e da FifPro Europe
Superliga Europeia
Nas entrelinhas, o comunicado faz menção à decisão proferida pelo TJUE no fim do ano passado, que proibiu tanto Fifa quanto a União das Associações Europeias de Futebol (Uefa) de ameaçarem com sanções os clubes (especialmente Real Madrid e Barcelona, principais entusiastas da ideia) que articularam a criação da Superliga Europeia.
Apesar de a competição com equipes de elite da Europa ainda não ter saído do papel (mas já começou a se organizar, tanto que tem logomarca e nome registrados pela empresa A22 Sports Management) e as repercussões ainda estarem restritas à UE, a decisão pode ter reflexos em outras partes do mundo, representando uma “Nova Lei Bosman”, conforme analisou, à época, a Máquina do Esporte.
Isto porque, atualmente, os times profissionais estão sujeitos a uma série de regras da Fifa para poderem competir. Isso inclui, por exemplo, a imposição feita às equipes maiores e com grandes torcidas, que têm de disputar torneios pouco rentáveis organizados por federações locais, contra adversários de menor nível técnico.
Por outro lado, não deixa de ser irônico que as ligas nacionais façam menção positiva a esse julgamento, já que, quando a ideia da Superliga surgiu, elas foram as primeiras vozes a se posicionar contrariamente.
Atualmente, estão classificados para o Mundial de Clubes 2025, da Fifa, os seguintes clubes europeus: Manchester City e Chelsea, da Inglaterra; PSG, da França; Atlético de Madrid e Real Madrid, da Espanha; Internazionale e Juventus, da Itália; Bayern de Munique e Borussia Dortmund, da Alemanha; Red Bull Salzburg, da Áustria; e Benfica e Porto, de Portugal.