A debandada de patrocinadores do vôlei era uma ameaça constante desde o início do ano e virou uma realidade após o fim da Superliga, mas só ganhou contornos mais drásticos nesta semana. Ao anunciar o fim de seu investimento no esporte, a Unisul escancarou, pela primeira vez, a importância da Globo no êxodo das empresas, colocando em xeque o modelo adotado pelo esporte nas últimas décadas.
Exemplo de sucesso dentro e fora das quadras, o vôlei pode se tornar inviável caso a emissora mantenha sua política de não citar patrocinadores durante a transmissão. O responsável pelo início da celeuma, Aílton Soares, novo reitor da Unisul, falou com exclusividade à Máquina do Esporte.
?Quando tu crias um desses em qualquer modalidade, tu tens um custo em torno da estrutura. Nós estamos tomando uma decisão interna. Vamos manter o esporte, mas não da mesma forma?, disse o professor.
Soares faz questão de evitar mais polêmicas. Durante a entrevista, fez questão de ressaltar que a política da Globo não foi o principal fator para a saída. Na verdade, o estopim da mudança foi a Tigre, que não renovou seu contrato e, com isso, inviabilizou a manutenção do time masculino.
A queixa, no entanto, ganhou espaço na imprensa. Em comunicado oficial, a Unisul reclamou do fato de ser chamada de Joinville, referência à cidade-sede da equipe. O documento incomodou tanto que motivou uma resposta da Globo, logo no dia seguinte.
Leia a íntegra da entrevista a seguir:
Máquina do Esporte: Como era a viabilização financeira da equipe?
Aílton Soares: Quando tu crias um time desses em qualquer modalidade, tu tens um custo em torno da estrutura. Esse valor é maior ou menor de acordo com o nível dos atletas. A universidade tem um orçamento para o marketing para trabalhar esse total. Se tudo custa R$ 50 mil, a universidade paga 20% e vai atrás de patrocínio para o resto. E nós montamos um time de chegada, que não vai só competir. E isso tem um custo maior. À medida que buscamos isso, vai aumentando e temos de buscar mais patrocinadores. E aí você abre seu espaço para deixar para os novos parceiros.
ME: E porque vocês tiveram de acabar com o time? A crise interferiu?
AS: A gente está tomando uma decisão interna. Temos o esporte para o alto rendimento, a assistência social e o setor de pesquisas. São esses os três grandes itens que trabalhamos. Hoje nós estamos focando a academia da universidade. Os alunos de educação física vão para a estrutura dos nossos campi, e isso tudo continua disponível para o nosso time de competição. Só que aí depende das empresas. Enquanto nós tivermos patrocinadores esse setor existe, mas a partir do momento que nós não temos condições de manter esse rendimento nós saímos. Nós estamos mantendo a assistência social. E aí é claro que os problemas econômicos podem ter atingido as parceiras de alguma forma, mas eu já não sei te dizer.
ME: E foi a Tigre que resolveu sair?
AS: Sim, a Tigre e a Braskem, que é o braço da Tigre em São Paulo. Eu até tenho outras patrocinadoras aqui, mas elas também deixarão o projeto. Era a Tigre que tinha a manutenção do time e dos atletas.
ME: E a política da Globo pesou para a Tigre?
AS: Olha, em nenhum instante a Tigre colocou a situação da Globo. Não quero dar a sensação de que eles saem por isso. Agora, nós montamos um time em Joinville e o nome da Unisul em nenhum instante sai na mídia. Essa é que é a diferença que a gente tem. As universidades deixam de ter suas marcas em noticiários porque levam o nome da cidade. Se a Unisul tivesse em Cuiabá, o nome seria Cuiabá. Essa é uma definição deles, e está dentro da política deles, que nós respeitamos. E para gente isso muda apenas no âmbito nacional, porque aqui na nossa região, no município, a veiculação é sempre como Unisul.
ME: Mas você acha que as coisas poderiam ser diferentes se a postura da Globo fosse outra?
AS: Se o futebol tivesse uma transmissão sem a citação dos times, mas das cidades, seria muito complicado para eles. Eles não teriam condições nenhuma de se manter. Agora, o vôlei ainda não tem uma transmissão tão aberta. Se ele tivesse o tratamento que é dado ao futebol já seria melhor para todo mundo. Mas nós também temos o nosso lado de empresa da comunicação. Nós temos uma televisão aqui na universidade, e entendemos que essa empresa tem de viver dos patrocínios dela. Se o Ibope não dá a essa empresa o que ela precisa é óbvio que ela vai mudar o investimento. Nós levantamos isso, e a Globo respondeu em nota oficial, então não tem mais o que falar sobre o assunto.