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Carlo Ancelotti na seleção brasileira

Treinador italiano sabe lidar com jogadores de alto nível e é um gestor respeitado, o que nos dá uma expectativa positiva; futebol brasileiro não pode ser apenas memória e precisa voltar a ser referência

Carlo Ancelotti durante coletiva de apresentação e primeira convocação como técnico da seleção brasileira - Rafael Ribeiro / CBF

Antes de falar sobre Carlo Ancelotti, é importante olhar para o momento crítico que a seleção brasileira atravessa. Dentro de campo, a equipe perdeu a identidade. Não há convicção, padrão de jogo ou rendimento, nem individual nem coletivo. Falta conexão com os torcedores, falta sintonia, falta paixão.

Isso é grave, porque a seleção sempre foi símbolo dessa união com o povo brasileiro. E, nesse momento, perdemos a nossa essência. 

Além da crise técnica, há também turbulência nos bastidores: polêmicas constantes, instabilidade institucional, desconfiança. É um dos momentos mais delicados da nossa história recente, e mudar esse cenário exige uma postura firme e uma virada radical.

Nesse contexto, o papel do treinador é fundamental para que a mudança ocorra. É ele quem dá direção, posiciona as peças, transmite confiança e estabelece a cultura dentro do grupo. Mas, para fazer isso, também precisa de estrutura, respaldo e liberdade para trabalhar. É preciso que os dirigentes ofereçam estabilidade e autonomia para que ele consiga reestruturar a seleção com clareza e propósito.

Sobre Ancelotti, seu currículo dispensa apresentações. É o técnico mais vitorioso da Champions League, um especialista em gerir grandes elencos sob intensa pressão. Sua experiência e seu perfil como líder são inquestionáveis. Ele sabe lidar com jogadores de alto nível e é um gestor respeitado, o que nos dá uma expectativa positiva.

No entanto, o desafio agora é diferente. A seleção vive um momento que exige mais do que gestão: exige confronto com estruturas ultrapassadas, coragem para corrigir o que está errado e força para romper padrões que nos afastaram do protagonismo. E aí surge a dúvida: será que veremos um Ancelotti mais incisivo e mais ativo diante da crise?

Falo em confrontar não no sentido de criar conflito, mas de enfrentar de frente o que precisa ser transformado. Isso inclui mergulhar na cultura brasileira, compreender as peculiaridades da nossa torcida, da nossa imprensa, da forma como vivemos o futebol. Trabalhar na seleção, em especial nesse momento, exigirá dele algo além do que já mostrou em grandes clubes europeus.

A preparação não se limita às convocações. O trabalho deve acontecer nos bastidores, com estudo, estratégia, observação constante e alinhamento com o projeto maior de recuperação. Não temos tempo a perder. São poucos jogos, pouco entrosamento, e muito a corrigir.

Tenho boas expectativas. Ancelotti é um nome forte. O fato de ser estrangeiro, para mim, não é problema. Os melhores devem estar na seleção, independentemente da nacionalidade, desde que respeitem nossa história, nosso DNA e se comprometam com a excelência. Joguei muitos anos na Europa e aprendi muito com treinadores de fora. O que importa é a competência e o resultado.

Se houver comprometimento real, se ele se posicionar com firmeza e contar com uma estrutura que o apoie, temos tudo para retomar o caminho das vitórias. Mas, para isso, será preciso coragem. Coragem para mudar o que precisa ser mudado. Coragem para enfrentar o momento com seriedade. E coragem, sobretudo, para liderar.

Fico na torcida. Porque o futebol brasileiro não pode ser apenas memória; ele precisa voltar a ser referência. E o momento de recomeçar é agora.

Diego Ribas é ex-jogador de futebol, com passagens por Santos, Flamengo, diversos clubes europeus e seleção brasileira. Atualmente, é palestrante, comentarista, apresentador do PodCast 10 & Faixa e garoto-propaganda de empresas como Genial Investimentos, Adidas, Colgate e Solides