Ao que tudo indica, a batata de John Textor está assando cada vez mais rápido no seu ambicioso projeto de ser dono de vários clubes de futebol ao redor do planeta. Depois de perder o controle do Lyon, o dirigente corre sério risco de ser “impedido” de continuar à frente do Botafogo e do Daring Bruxelas (antigo Molenbeek, da Bélgica).
O mais curioso de toda a briga entre Textor e os demais acionistas da Eagle Football Holdings é que o risco de ruína para o norte-americano falastrão vem exatamente daqueles que foram responsáveis pelo salto mais alto da holding, que foi a compra do Lyon, na França.
A estratégia de Textor para a criação de um projeto multiclubes foi, até o momento, muito bem armada. O norte-americano, que entrou como aventureiro no Crystal Palace, da Inglaterra, graças à fortuna que fez com a FuboTV na pandemia, havia criado um roteiro perfeito de clubes a serem escolhidos para estar nos maiores centros exportadores e importadores de pé de obra do futebol.
A holding idealizada por Textor, que já deixou de ter o time inglês, envolve, hoje, três dos principais centros de formação e recepção de atletas do futebol mundial. O Brasil é a porta de saída do jogador sul-americano para a Europa, enquanto a Bélgica e a França são dois dos principais receptores de talentos africanos no Velho Continente.
Mas, para conseguir alavancar esse projeto, Textor precisou da grana de investidores. E, hoje, são esses financiadores da Eagle que cobram menos presença do norte-americano na gestão dos clubes para evitar o colapso do sistema e uma perda significativa de dinheiro.
O caso lembra – e muito – a batalha final que Abílio Diniz travou para manter o controle do Grupo Pão de Açúcar (GPA) na década passada. O executivo, que, nos anos 1990, reinventou o supermercado da família graças ao aporte do grupo francês Casino, acabou tirado do negócio em 2013, após uma briga na Justiça com seu principal investidor.
O que levou Abílio a deixar o controle do GPA foi tentar uma manobra que lhe desse mais poder, mas que o colocava em colisão com os financiadores de suas ideias. O empresário brasileiro tentou, em 2011, promover uma fusão no Brasil do Pão de Açúcar com o Carrefour, maior concorrente do Casino, em uma manobra para ganhar mais poder dentro do Grupo.
É exatamente essa a encruzilhada de Textor. Ele tenta uma manobra para manter Botafogo e Daring sob seu controle ao montar uma empresa nas Ilhas Cayman. O problema é que, tal qual Abílio deu um passo maior do que as pernas ao querer incorporar o Carrefour, Textor irritou seus sócios ao tentar implodir o sistema na Liga Francesa e ser obrigado a deixar o controle do Lyon para não levar o time para a Ligue 2, a segunda divisão local.
A maneira tresloucada de John Textor de comandar um clube, que deu certo no Botafogo graças ao desempenho esportivo alcançado rapidamente pelo time, agora é sua maior fraqueza na tentativa de manter o projeto que ele idealizou sob seu controle.
Ao começar a abrir a caixa preta das finanças da Eagle Football Holdings, os acionistas vão mostrando que Textor vinha tratando seus clubes como uma única coisa, em uma tentativa desenfreada de burlar regras em diferentes mercados em busca de maior desempenho esportivo sem muito controle na gestão.
Há um risco tremendo de o caso envolvendo a empresa se tornar um marco para a discussão de uma regulamentação mais rígida sobre os conglomerados multiclubes em todo o mercado do futebol. Essa é a boa notícia.
A má notícia é que isso pode vir acompanhado de um baque significativo para o Botafogo.
Erich Beting é fundador e CEO da Máquina do Esporte, além de consultor, professor e palestrante sobre marketing esportivo