O mercado brasileiro de apostas esportivas de quota fixa deve gerar R$ 9 bilhões em arrecadação tributária federal e municipal até o fim de 2025. A estimativa é do estudo “Panorama do Mercado de Apostas de Quota Fixa”, elaborado pela LCA Consultores e pela Cruz Consulting, a pedido do Instituto Brasileiro de Jogo Responsável (IBJR) e da Associação Nacional de Jogos e Loterias (ANJL), duas das principais entidades que congregam o setor no país.
“A pesquisa mostra um panorama para termos ideia do que é o setor. É um setor que funciona [regulado] desde janeiro e existe muita desinformação circulando. Agora temos um balizamento”, destaca André Gelfi, diretor conselheiro e cofundador do IBJR em entrevista à Máquina do Esporte.
O levantamento foi feito com base em dados públicos e informações fornecidas por operadoras legalizadas, tratados de forma agregada. Segundo a LCA, a metodologia utilizou extrapolação estatística para estimar o impacto do setor legal como um todo.
Tributos
A arrecadação inclui tributos como Imposto sobre a Renda das Pessoas Jurídicas (IRPJ), Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL), PIS, Cofins, Imposto Sobre Serviços (ISS) e a contribuição obrigatória de 12% sobre o faturamento bruto menos premiação paga aos apostadores (GGR, na sigla em inglês).
Segundo o estudo, esse montante equivale ao financiamento anual de 5.136 policiais, 7.421 professores do ensino básico e 23 unidades básicas de saúde (UBS).
“A pesquisa mostra que é um setor de serviços, que emprega gente qualificada, mas não tem um peso relevante na economia”, define Gelfi.
O setor de apostas não irá remanejar qualquer dinâmica social do Brasil. Parece que a bet é que vai pagar a conta”
André Gelfi, diretor conselheiro e cofundador do IBJR
“A pesquisa dá um toque de realidade à narrativa. Precisamos de dados para parar de especular sobre esse assunto”, acrescenta.
Patrocínio
O setor de apostas é hoje o principal patrocinador do futebol nacional. De acordo com o estudo, 18 dos 20 clubes da Série A do Campeonato Brasileiro 2025 têm casas de apostas como patrocinador máster, somando R$ 1,1 bilhão de investimento por temporada.
Esse valor supera em média 2,6 vezes o total recebido em premiações esportivas. Para efeito de comparação, equivale ao prêmio por cinco títulos da Libertadores, oito da Copa do Brasil ou 23 do Campeonato Brasileiro.
Segundo a pesquisa, 11 clubes da elite do Brasileirão recebem mais com patrocínio de apostas do que se fossem campeões nacionais.
“O patrocínio das operadoras legalizadas tem papel decisivo para manter o futebol competitivo e financeiramente saudável”, defende Gelfi.
“O mercado ilegal, que não paga impostos nem apoia o esporte, é o verdadeiro risco para o futuro do jogo”, completa.
Empregos
O setor responde por 10 mil empregos diretos e 5,5 mil indiretos. Desde a regulamentação pela Lei nº 14.790/23, os vínculos formais triplicaram. A maioria dos profissionais tem ensino superior completo ou incompleto (65%), e 47% ocupam cargos que exigem formação técnica ou universitária.
O salário médio é de R$ 7.000, mais do que o dobro da média nacional (R$ 3,2 mil, segundo o IBGE). Além disso, 63,8% dos trabalhadores ganham acima de quatro salários mínimos. A folha de pagamento anual gerada é de R$ 460 milhões, com R$ 87 milhões em encargos sociais.
Segundo o Modelo de Insumo-Produto (MIP), cada R$ 1 de renda gerada diretamente no setor pode representar até R$ 2,21 de renda total na economia.
Investimento
De acordo com o levantamento, desde janeiro de 2025, quando a regulamentação entrou em vigor, o setor soma R$ 7,5 bilhões em capital próprio investido. O estudo afirma que efeito multiplicador desse aporte pode gerar até R$ 28 bilhões em demanda adicional em outros segmentos produtivos.
O número de empresas ativas passou de 23 em 2023 para 82 em 2024, com sede em pelo menos sete estados e quatro regiões. A maioria das casas de apostas têm sede em São Paulo, com polos também em Pernambuco e na Paraíba.
A regulamentação também estimulou a criação de 67 novas ocupações formais, como desenvolvedor de sistemas, analista de pesquisa de mercado, designer de produto e analista de riscos.
Economia
O faturamento estimado das operadoras em 2025 é de R$ 36 bilhões. O setor atua em áreas como tecnologia, publicidade, eventos e serviços corporativos, formando um ecossistema econômico diversificado.
“Estamos construindo um mercado sólido, transparente e competitivo, capaz de atrair novos players, proteger o apostador e combater o jogo ilegal, que somente traz prejuízos ao país”, afirma Plínio Lemos Jorge, presidente da ANJL.
O avanço da regulação é o que garante previsibilidade, segurança jurídica e confiança para operadores e consumidores”
Plínio Lemos Jorge, presidente da ANJL
Ilegalidade
Apesar da regulamentação promovida em 2025, cerca de 50% das apostas ainda ocorrem no mercado clandestino, de acordo com número de outra pesquisa financiada pelo IBJR, feita pelo Instituto Locomotiva e pela própria LCA, divulgada em junho.
“A foto que mostramos na pesquisa anterior deixa claro que parte importante do mercado está na clandestinidade. Temos pautas discutidas que estão sendo implementadas”, afirma o diretor do IBJR.
A legislação vigente estabelece critérios para licenciamento, rastreabilidade de pagamentos, identificação facial e mecanismos de jogo responsável. Para as entidades de classe, porém, os esforços do governo para combater o jogo ilegal ainda são limitados.
“Entendo que foi pouco. Estamos fazendo campanha de conscientização e o governo ainda não fez nada nesse sentido de diferenciar o mercado clandestino do regulado. A Secretaria [de Prêmios e Apostas do Ministério da Fazenda] tem pouco recurso alocado para fiscalização”, critica Gelfi, que é sócio da Betsson.
A Secretaria de Prêmios e Apostas do Ministério da Fazenda (SPA/MF), criada em 2024, é responsável por autorizar e fiscalizar as operadoras. Apenas sites com domínio “.bet.br” podem atuar legalmente no Brasil. Segundo a autarquia, foram derrubados, em média 14 sites ilegais por dia nos oito primeiros meses da regulamentação.
Repressão
O executivo defende que a necessidade de desenvolver mecanismos para coibir o pagamento de sites ilegais, o uso de influenciadores na promoção de empresas clandestinas e promover uma agenda regulatória dos fornecedores de jogos.
“Pagamos impostos elevados, comparados a outros mercados regulados que deram certo, com tem taxa de canalização alta e mercado clandestino residual. Entendemos que um aumento de impostos agora vai atentar contra o grande desafio de construir esse mercado”, defende.
