No esporte, de um modo geral, ídolos são fundamentais como fonte de inspiração e identificação. E no futebol feminino não é diferente. A modalidade conta com uma grande quantidade de referências brasileiras, passando por Sissi, Formiga e Cristiane, entre tantas outras, até Marta, a maior jogadora de todos os tempos.
No entanto, mesmo com tantos exemplos, a construção de ídolos é difícil no futebol feminino. Com a idolatria inquestionável de Marta e a presença de grandes jogadoras na mesma geração, como Formiga e Cristiane, sobrava pouco espaço para novas figuras.
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Mesmo assim, com boas atuações regulares dentro de campo e uma boa gestão de carreira fora dele, Tamires Cássia Dias de Britto, ou simplesmente Tamires, atual jogadora do Corinthians, conseguiu vencer barreiras e construir sua imagem como referência no futebol feminino.
Convidada do episódio mais recente do Maquinistas, podcast da Máquina do Esporte, Kin Saito, atualmente diretora-executiva de futebol feminino da Federação Paulista de Futebol (FPF), participou diretamente da construção e da gestão da carreira de Tamires, quando trabalhava na agência Octagon Brasil. Kin contou sobre sua trajetória com a atleta, a importância da gestão de carreira no esporte e também a importância de figuras como Tamires para as meninas que sonham com a profissão e mesmo para aquelas que já são profissionais.
Além de Marta e companhia
“Eu tinha muito essa sensação, de que as matérias eram ‘Marta, Formiga, Cristiane e companhia’. Não se falava de outras figuras que não estivessem personificadas nessas três”, observou Kin Saito.
Ao observar estas manchetes, a executiva teve a ideia de trabalhar para que outras jogadoras, que não Marta, Formiga e Cristiane, também tivessem visibilidade. Tamires era uma das jogadoras que se enquadrava neste “projeto”. E a imagem da jogadora ainda foi potencializada pelo retorno dela ao Corinthians, após a Copa do Mundo Feminina de 2019.
A importância do retorno ao futebol brasileiro
O retorno de Tamires ao Brasil em 2019, mais especificamente ao Corinthians, representou uma oportunidade única para a atleta construir sua imagem junto ao público brasileiro.
Por ter se destacado no Mundial disputado na França, a lateral-esquerda voltou como um grande nome ao país. Na avaliação de Kin, esse retorno significou não só uma oportunidade para ela, mas também para reconstruir a modalidade no país como um todo.
“Em 2019, a Tamires volta a atuar no Brasil, como uma oportunidade de vir contribuir com o processo de desenvolvimento do futebol feminino brasileiro. Ela vem como uma grande figura, que teve muita projeção na Copa”, afirmou a executiva.
Kin também ressaltou a figura de Tamires como uma representante do crescimento do futebol feminino no Brasil, sempre colocando os interesses da modalidade como um todo acima dos dela.
“Com muita naturalidade ela se colocava acima de si própria, querendo falar pela modalidade como um todo, de uma forma muito nobre e muito humilde”, apontou.
A imagem de Tamires como atleta
Kin contou que, após o retorno da jogadora, a missão com Tamires era simples, mas nada fácil: fazer com que a jogadora repercutisse na mídia como atleta, e não como mãe.
“Falei para ela: ‘nós queremos ampliar sua voz, a gente sabe que você, com esse aspecto da maternidade, está sendo buscada apenas no Mês das Mães, para falar como é ser mãe jogadora. Mas quem é a Tamires atleta, com 10 anos de titularidade na seleção brasileira?'”, relembrou.
A executiva detalhou todo o trabalho feito junto à mídia, para que os jornalistas abordassem outros assuntos, não só a maternidade. Muitas vezes, até durante o intervalo das partidas, Tamires era perguntada mais sobre seu filho e como conciliar a maternidade com a vida de jogadora profissional, do que sobre o jogo em si ou seu desempenho em campo.
Kin revelou que o trabalho foi feito, então, em diferentes frentes que explorassem todo o potencial da imagem da jogadora. Tamires passou a ser reconhecida como atleta e voz da modalidade, não só como mãe. Além do trabalho de comunicação, também foi realizado um trabalho de gestão de patrimônio da atleta, até chegar no mundo dos negócios.
O relacionamento com as marcas não foi feito apenas de forma pontual, mas sim baseado em uma estratégia, com marcas que entendessem o posicionamento da atleta no universo do futebol feminino.
“Menos coisas pontuais, mas escolhendo com muito cuidado aquelas marcas que entendiam o posicionamento dela na modalidade, a ponto de se tornar uma embaixadora. Às vezes, mais do que uma embaixadora nacional, uma embaixadora global, como foi o caso com Gatorade, Rexona e Puma”, ressaltou a executiva.
Recentemente, em uma ação da Puma para o Grande Prêmio de São Paulo de Fórmula 1, Tamires se encontrou com o piloto Lewis Hamilton, da Ferrari, no Allianz Parque.
O episódio do Maquinistas, podcast apresentado por Erich Beting e Gheorge Rodriguez, com a participação de Kin Saito, diretora-executiva de futebol feminino da Federação Paulista de Futebol (FPF), está disponível no Spotify e no canal da Máquina do Esporte no YouTube:
