Dirigentes de Vasco e Cuiabá alertaram que, apesar de regas estabelecidas pelo recém-lançado Fair Play Financeiro, muitos clubes podem enfrentar colapso nas contas nos próximos anos.
Em debate no Summit CBF Academy, em São Paulo, Alexandre Cordeiro, vice-presidente de relações institucionais do Vasco e ex-presidente do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), destacou que a exigência de certidões fiscais e comprovação de solvência é fundamental para dar segurança jurídica ao ambiente do futebol.
“O regulamento exige que os clubes apresentem três vezes por ano certidões de regularidade fiscal para demonstrar adimplência tributária. Esse, inclusive, é o único critério aplicado aos clubes da Série C, que têm um sistema de monitoramento mais simplificado”, destaca Cordeiro.
Esse controle exige maior rigor na gestão de clubes como o próprio Vasco, do qual Cordeiro integra a diretoria. O time de São Januário divulgou em junho seu balanço financeiro de 2024 com dívidas acumuladas de R$ 1,2 bilhão, apesar do aumento de receitas em áreas como premiação e venda de jogadores.
Cuiabá
Cristiano Dresch, presidente do Cuiabá, usou a experiência recente do clube para exemplificar os riscos. Ele lembrou que o rebaixamento em 2024 expôs a fragilidade de modelos dependentes de receitas imediatas.
“Conseguimos subir para a primeira divisão e ficar quatro anos, o que não é fácil. O rebaixamento mostrou que você precisa ter um projeto estruturado, de médio e longo prazo, senão transforma um sonho em pesadelo”, acredita.
Mesmo após a queda, o dirigente afirmou que manteve investimentos em infraestrutura e categorias de base.
“Fechamos o ano passado com R$ 8 milhões gastos na base. Neste ano, vamos chegar a quase R$ 10 milhões. Mantivemos o orçamento, fazendo sacrifícios, porque acreditamos que é a base que vai mudar o nível do Cuiabá”, afirma ele.
Receitas
Dresch também comentou sobre a baixa participação dos torcedores do Cuiabá na geração de recursos financeiros para o clube do Mato Grosso.
“A receita de estádio e torcida dentro do orçamento do Cuiabá é pequena. Por isso, temos feito investimentos grandes na formação de jogadores para sustentar o projeto com a venda de atletas”, comenta.
O dirigente acrescentou que ações sociais em escolas e a revelação de jogadores locais são estratégias para aproximar o torcedor e ampliar a base de fãs no futuro.
Tributação
Outro integrante da mesa, o advogado Igor Mauler, que ajudou na elaboração do Fair Play Financeiro, divulgado pela CBF na última quarta-feira (26), destacou que a inadimplência tributária continua sendo um dos principais problemas dos times.
“No nosso Grupo de Trabalho [do Fair Play Financeiro] fizemos uma pesquisa que mostrou que 68% dos clubes vão fechar o ano no negativo. E 50% projetam encerrar 2025 em uma situação financeira igual ou pior do que em 2024”, contou Mauler, referindo-se à enquete realizada entre os 34 times, das Séries A e B, que participaram do GT.
O debate foi mediado por Matheus Senna, diretor de desenvolvimento e projetos da CBF, que reforçou a necessidade de medidas regulatórias para garantir o crescimento sustentável do futebol brasileiro.
“Sabemos de todo esse desafio do Fair Play [Financeiro], de lidar com um novo ambiente regulatório. Tivemos a implementação das SAFs nos últimos anos. Há toda a questão do novo marco tributário ocorrendo e tem várias consequências para os clubes”, lista Senna.
