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Clubes expõem fragilidade econômica em debate e Fair Play Financeiro reforça alerta sobre dívidas

Painel no Summit CBF Academy mostrou que regras de solvência vão evidenciar dificuldades já existente

Matheus Senna (CBF), Igor Mauler (advogado esportivo), Cristiano Dresch (Cuiabá) e Alexandre Cordeiro (Vasco), em debate no Summit CBF Academy - Adalberto Leister Filho / Máquina do Esporte

Matheus Senna (CBF), Igor Mauler (advogado esportivo), Cristiano Dresch (Cuiabá) e Alexandre Cordeiro (Vasco), em debate no Summit CBF Academy - Adalberto Leister Filho / Máquina do Esporte

Dirigentes de Vasco e Cuiabá alertaram que, apesar de regas estabelecidas pelo recém-lançado Fair Play Financeiro, muitos clubes podem enfrentar colapso nas contas nos próximos anos.

Em debate no Summit CBF Academy, em São Paulo, Alexandre Cordeiro, vice-presidente de relações institucionais do Vasco e ex-presidente do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), destacou que a exigência de certidões fiscais e comprovação de solvência é fundamental para dar segurança jurídica ao ambiente do futebol.

“O regulamento exige que os clubes apresentem três vezes por ano certidões de regularidade fiscal para demonstrar adimplência tributária. Esse, inclusive, é o único critério aplicado aos clubes da Série C, que têm um sistema de monitoramento mais simplificado”, destaca Cordeiro.

Esse controle exige maior rigor na gestão de clubes como o próprio Vasco, do qual Cordeiro integra a diretoria. O time de São Januário divulgou em junho seu balanço financeiro de 2024 com dívidas acumuladas de R$ 1,2 bilhão, apesar do aumento de receitas em áreas como premiação e venda de jogadores.

Cuiabá

Cristiano Dresch, presidente do Cuiabá, usou a experiência recente do clube para exemplificar os riscos. Ele lembrou que o rebaixamento em 2024 expôs a fragilidade de modelos dependentes de receitas imediatas.

“Conseguimos subir para a primeira divisão e ficar quatro anos, o que não é fácil. O rebaixamento mostrou que você precisa ter um projeto estruturado, de médio e longo prazo, senão transforma um sonho em pesadelo”, acredita.

Mesmo após a queda, o dirigente afirmou que manteve investimentos em infraestrutura e categorias de base.

“Fechamos o ano passado com R$ 8 milhões gastos na base. Neste ano, vamos chegar a quase R$ 10 milhões. Mantivemos o orçamento, fazendo sacrifícios, porque acreditamos que é a base que vai mudar o nível do Cuiabá”, afirma ele.

Receitas

Dresch também comentou sobre a baixa participação dos torcedores do Cuiabá na geração de recursos financeiros para o clube do Mato Grosso.

“A receita de estádio e torcida dentro do orçamento do Cuiabá é pequena. Por isso, temos feito investimentos grandes na formação de jogadores para sustentar o projeto com a venda de atletas”, comenta.

O dirigente acrescentou que ações sociais em escolas e a revelação de jogadores locais são estratégias para aproximar o torcedor e ampliar a base de fãs no futuro.

Tributação

Outro integrante da mesa, o advogado Igor Mauler, que ajudou na elaboração do Fair Play Financeiro, divulgado pela CBF na última quarta-feira (26), destacou que a inadimplência tributária continua sendo um dos principais problemas dos times.

“No nosso Grupo de Trabalho [do Fair Play Financeiro] fizemos uma pesquisa que mostrou que 68% dos clubes vão fechar o ano no negativo. E 50% projetam encerrar 2025 em uma situação financeira igual ou pior do que em 2024”, contou Mauler, referindo-se à enquete realizada entre os 34 times, das Séries A e B, que participaram do GT.

O debate foi mediado por Matheus Senna, diretor de desenvolvimento e projetos da CBF, que reforçou a necessidade de medidas regulatórias para garantir o crescimento sustentável do futebol brasileiro.

“Sabemos de todo esse desafio do Fair Play [Financeiro], de lidar com um novo ambiente regulatório. Tivemos a implementação das SAFs nos últimos anos. Há toda a questão do novo marco tributário ocorrendo e tem várias consequências para os clubes”, lista Senna.