Nos últimos dias de março, a equipe Vôlei Campinas anunciou a saída dos laboratórios Medley do posto de principal patrocinador da equipe após o fim da campanha do time na atual temporada da Superliga masculina. A perda de patrocinador não é nenhuma novidade para os clubes de vôlei brasileiros. Mas a revolta de seus atletas sim.
Cansados das constantes saídas e trocas de empresas no esporte, mais de 280 atletas e ex-atletas dos 12 times da Superliga, liderados pelo ex-seleção brasileira e capitão do Canoas Gustavo Endres, lançaram uma campanha nas redes sociais por mudanças no formato de disputa do principal torneio nacional da modalidade: “Unidos pelo Voleibol”.
O novo formato aumenta o período de disputa da liga de quatro para sete meses, com as equipes jogando uma vez por semana ao invés de duas, como é atualmente. Entre outras medidas estão a criação de uma Copa do Brasil paralela à Superliga e disputada em jogos eliminatórios, e a realização de um Jogo das Estrelas, assim como acontece no NBB, por exemplo.
Segundo Gustavo, “uma duração maior da Superliga ajudaria os clubes que pagam 12 salários para o jogador e só tem suas marcas na mídia durante por quatro ou cinco meses”.
Outras alterações também foram sugeridas pelo grupo. O repasse das cotas de televisão para os clubes, e não somente para a CBV, e o aumento do espaço de exposição dos patrocinadores nas placas de publicidade são algumas alterações que serviriam para melhorar a condição financeira das equipes.
Até o momento, a Confederação Brasileira de Vôlei (CBV) ainda não se manifestou sobre a possibilidade de que as sugestões sejam implantadas, mas se declarou aberta a debater com clubes e jogadores.
Em entrevista à Máquina do Esporte, Alexandre Stanzioni, gerente do São Bernando Vôlei, criticou a atual situação dos clubes e elogiou a iniciativa dos jogadores:“O formato atual faz os clubes dependerem exclusivamente do patrocinador, mas as entregas não são exatamente como as empresas precisam. Os times mudam muito e você não consegue sempre mover a torcida, porque não há identificação com o clube. Não existem clubes de vôlei e sim times, moment”neos, que duram dois ou três anos”.
“Dessa maneira, fica inviável para as empresas permanecer. O problema é que os clubes não são sustentáveis sem esses patrocínios e não conseguem se manter apenas com as outras receitas. O modelo é o mesmo desde a década de 80. A televisão compra e não repassa. Patrocínio é apenas um dos problemas”, completou Stanzioni.
“Converso muito com o Gustavo e falamos bastante sobre a duração do campeonato. Os jogadores têm um peso diferente, uma imagem muito mais reconhecida pelo público. A liga precisa dessa união e desse poder para mudar”, afirmou o dirigente.
Sobre o aumento da duração da Superliga, o gerente do São Bernardo se mostrou positivo: “É uma das soluções porque, para entregar maior exposição e mais qualidade técnica, o campeonato mais importante do país tem que ser mais valorizado e tem que ser bem feito”.
Fernando Maroni é gerente de alto rendimento da agência ESM. A empresa administra o próprio Vôlei Campinas, ex-Medley, onde o executivo atua como supervisor. Ele afirma que os clubes são os grandes responsáveis pela fragilidade do formato: “Os grandes culpados somos nós mesmos. Os clubes não vão às reuniões com a CBV e não se manifestam, pensam apenas no seu umbigo e a curto prazo”.
A movimentação de empresas dentro do vôlei foi comentada pelo executivo do vôlei Campinas: “Não podemos apenas incriminar as empresas por entrar e sair do esporte. Ainda vivemos um processo de maturação do mercado do esporte. Há dificuldades das empresas de definir os objetivos do patrocínio. Hoje o vôlei é um ótimo produto. O público assiste cada vez mais. O potencial de entrega das equipes é muito bom, mas é necessário um amadurecimento das equipes e das empresas. Por isso, ainda temos muita dificuldade de fechar contratos a longo prazo”.
Maroni considera positiva a manifestação dos atletas, mas analisa a questão com cautela: “Temos que ter cuidado nesse tipo de manifestação. A CBV nunca se recusou a ouvir sugestões. Há de se fazer uma autocrítica: os dirigentes e os clubes não são inocentes, têm mais poder que imaginam”.
“A discussão é muito positiva, mas tem que ser interna. As coisas caminham para o que todo mundo quer, vão evoluindo, mas a longo prazo. E a gente tem que pensar serenamente e olhar pra trás e ver que já evoluímos”, afirma Maroni.
Stanzioni critica também o espaço dado pela televisão: “A cobertura até é ampla, mas não é feita com uma avaliação prévia. O campeonato começa sem que as equipe saibam quantos jogos vão ter na TV. Como eu vendo a minha exposição sem isso? Deveria ser estabelecido um mínimo de jogos e daí vai se ajustando de acordo com o desempenho, a import”ncia do jogo. Tem equipe que passou duas vezes e outras vinte. E a cota ainda fica pra CBV enquanto os clubes nem sabem o valor dela”.
Já Maroni discorda da opinião do gerente de São Bernardo: “A CBV faz a escolha junto com a televisão. Temos que ver que a televisão também é um produto. Tudo depende muito da audiência e do retorno. Mas de uns anos para agora a situação melhorou muito. Hoje o vôlei é um ótimo produto. O público assiste cada vez mais e mesmo as equipes menores têm tido mais espaço, com pelo menos quatro ou cinco jogos por temporada”.
Mesmo com as divergências, Stanzioni e Maroni concordam na necessidade de buscar alternativas: “A ideia de pensar em uma solução além do patrocínio é o começo do caminho”, disse o dirigente da equipe de Campinas.
“Por filosofia das equipes e até por medo dos parceiros, falta hoje essa alternativa. É necessária uma mudança”, afirma Stanzioni.