Há algumas semanas, dirigentes de diversos clubes de vôlei do Brasil se reúnem para conseguir chegar a um grupo que possa pensar coletivamente em soluções para o segundo esporte mais popular do país. Com receio da fragilidade das equipes que disputam a Superliga, surgiu a Associação de Clubes de Vôlei, com a ideia de formar um modelo sustentável para o esporte, menos dependente de um grande investidor.
À Máquina do Esporte, o vice-diretor da nova entidade, Eduardo Carrero, explicou a intenção do grupo: “A CBV tem patrocínio do Banco do Brasil e criou um modelo vencedor. Mas, se não formarmos atletas, isso tende a cair. Quem forma os atletas são os clubes e temos esse objetivo específico de formação. Mas, hoje, um time recebe na caneta alguns milhões de um patrocinador que depois sai, sem essa preocupação”.
De fato, nos últimos anos houve casos de clubes relâmpagos graças a patrocínios efêmeros. O mais recente foi do RJX, que com o grupo EBX ganhou investimentos superiores a R$ 10 milhões, mas que no fim de 2013 perdeu o suporte da empresa. A parceria durou apenas dois anos, suficiente para conquistar uma Superliga, mas inviável para a sustentabilidade do clube que ficou.
A categoria de base é um dos exemplos de questões que os clubes mantêm, atualmente. A associação surge para sanar algumas das necessidades específicas desse grupo. “Não temos interesse em disputar o lugar da CBV, mas discutir os interesses do clube”, afirmou Carrero.
O dirigente, que também é gerente executivo do Sesi, explicou que não há o interesse, por exemplo, em assumir a gestão da Superliga, pelo menos por ora. A intenção é conseguir alinhar as vontades dos clubes. Carrero exemplifica o problema vivido nas equipes com as convocações para as seleções brasileiras. Hoje, o Sesi conta com 33 atletas que servem diversas seleções, sem que haja um planejamento adequado que possa agradar todas as partes.
Mesmo sem anunciar nenhuma medida mais radical, a criação da Associação de Clubes de Vôlei não agradou a CBV. Ao jornal “Estado de S. Paulo”, o presidente da entidade, Walter Larangeiras, afirmou que não reconhece o grupo, já que ele não estaria em “consonância com o planejamento estratégico do voleibol brasileiro”, elaborado pela confederação. É importante ressaltar que a associação ainda não se encontrou com o dirigente, o que deve acontecer em breve.
O levante dos clubes acontece justamente em um momento de fragilidade da CBV. A entidade sofreu uma série de denúncias nos últimos meses, o que rendeu a saída dos dois dirigentes mais fortes da entidade: o superintendente Marcos Pina e o presidente Ary Graça. Publicamente, o Banco do Brasil ameaçou cancelar o patrocínio à confederação, um dos mais duradouros do esporte nacional.
Agora, após a formação da associação, o próximo passo deverá ser o fortalecimento do grupo, que já conta com 17 clubes. O objetivo é que, dentro de um cenário pouco amistoso, seja possível a criação de um modelo sustentável para que os clubes se perpetuem independentemente de uma única empresa, com equipes que tenham uma identidade própria entre torcedores e atletas.