A Copa do Mundo causou na televisão o que se esperava dela. Tanto em São Paulo quanto no Rio de Janeiro, a cerimônia de abertura teve mais de 70% da audiência combinada entre Globo e Bandeirantes, as duas emissoras que transmitem a competição para o Brasil, e a vitória do Brasil por 3 a 1 sobre a Croácia teve mais de 80%. Em outras palavras, quatro em cada cinco televisões nas duas capitais economicamente mais importantes para o país estavam sintonizadas na Copa. Mas a audiência caiu em relação a edições anteriores, uma queda que precisa ser muito bem interpretada antes de tirar conclusões apenas com os números brutos.
Vamos aos números. Com a cerimônia, entre 15h15 e 17h, em São Paulo, a Globo marcou 29 pontos e teve 55% de share, enquanto a Band teve nove pontos e 19% de share. No Rio de Janeiro, a Globo registrou 36 pontos e 68% de share, e a Band, três pontos e 5% de share. Isso faz com que as médias de audiência dos dois canais somados tenham ficado em 39 pontos e acima de 70% nas duas capitais.
A audiência aumentou com a partida. No horário do jogo entre Brasil e Croácia, das 17h às 19h, em São Paulo, a Globo conseguiu 38 pontos no Ibope e 64%, e a Bandeirantes, nove pontos e 16%. No Rio de Janeiro, a Globo assinalou 43 pontos e 76%, enquanto a Band ficou com cinco pontos e 10% de share. Neste caso, portanto, a primeira aparição da seleção brasileira teve 47 pontos e 80% da audiência em São Paulo e 48 pontos e 86% do total no Rio. Outras emissoras viram as programações delas darem “traço” em vários momentos, quando a audiência não chega a um ponto.
Efeito cascata
Não foram só nos momentos da cerimônia de abertura e da vitória da seleção brasileira que os canais se beneficiaram da transmissão da Copa. Em São Paulo, a Globo teve um acréscimo de 22 pontos e de 138% em relação à média de toda a quinta-feira passada, e a Band teve quatro pontos e 80% a mais na mesma comparação. Mas outros programas pegaram carona e também cresceram.
Na Globo, todas as programações que antecederam o futebol tiveram os melhores Ibopes de todo o ano. Mais Você, logo cedo com Ana Maria Braga, Bem Estar, Encontro, SPTV, Globo Esporte e Jornal Hoje bateram recordes de audiência na quinta passada.
Menos audiência que em 2010 e 2006
O fato de a Copa ser no Brasil fez a TV chegar a menos pessoas em São Paulo. Em 2010, na África do Sul, o primeiro jogo da seleção brasileira, contra a Coreia do Norte, havia marcado 45 pontos e 72% na Globo e 11 pontos e 18% na Bandeirantes. Ou seja, os 66 pontos com 90% de todas as TVs ligadas ficaram acima dos 47 pontos com 80% registrados na última quinta.
Em 2006, na Alemanha, quando a Globo ainda não sublicenciava os direitos de transmissão da Copa para a Bandeirantes, a emissora havia marcado 66 pontos com 90% de share na primeira partida da seleção brasileira, também contra a Croácia.
Há muitas circunstâncias a serem levadas em conta antes de quaisquer conclusões. A começar porque um ponto no Ibope em São Paulo equivalia 47 mil domicílios em 2006, 55 mil em 2010 e 65 mil em 2014. Ou seja, um ponto em 2006 era mais fácil de ser obtido do que um em 2014.
Depois, a Copa no Brasil causou uma mudança no comportamento do torcedor que ainda é difícil de inferir. É lógico crer que mais gente preferiu assistir à abertura em aglomerações, seja um encontro familiar na casa da avó, num bar na Vila Madalena ou na fan fest que reuniu 20 mil pessoas no Vale do Anhangabaú, no centro de São Paulo.
E ainda há os crescimentos da TV paga e da internet, meios que eram menos consolidados em 2010 e muito menos em 2006. Cada pessoa que sintonizou Sportv ou ESPN representa uma a menos que ligou Globo ou Band na TV aberta. O mesmo vale para transmissões online.
Esses três fatores tornam natural a queda em número de pontos. O que deve ser considerado com atenção é a queda no share. Se o debute da seleção brasileira teve 90% das TVs em 2006, 90% em 2010 e, agora, caiu para 83%, há um recuo relevante de sete pontos percentuais. Ainda é cedo, mas vale perguntar: o que fez o quadro mudar?