Se o que faltava para os Estados Unidos investirem de fato no futebol era interesse do público, pulverizado entre pelo menos quatro esportes tradicionais por lá, a Copa de 2014 sugere que este problema está para acabar. As audiências das emissoras com os jogos da seleção e da Fifa em plataformas digitais mostram que o americano, enfim, tomou gosto pelo “soccer”.
ESPN e Univision dividiram os direitos de transmissão no país nesta edição – a primeira em inglês, a segunda em espanhol. A soma das audiências dos dois canais chegou a 24,7 milhões no jogo contra Portugal, na primeira fase, quando os portugueses empataram nos últimos minutos. Foi mais gente do que registraram as finais de basquete da NBA, 15,5 milhões, e beisebol, o World Series, com 14,9 milhões. Só o futebol americano alcançou mais indivíduos.
Contra a Bélgica, jogo da oitavas que eliminou a seleção americana, a audiência foi de 21,6 milhões na combinação das duas emissoras, também acima das finais de basquete e beisebol.
No online, os americanos se agigantam. De 1º a 30 de junho, 161 milhões de pessoas visitaram plataformas digitais da Fifa. Os Estados Unidos correspondem a 36 milhões, ou 22%. É o mesmo percentual de dispositivos móveis, nos quais, dos 25 milhões de indivíduos que baixaram o aplicativo da entidade para a Copa, 5,3 milhões são americanos.
Para se ter uma ideia, a Fifa calculou que americanos ficaram 847 anos e 143 dias em conteúdos online, na soma dos tempos de todas as pessoas. É mais do que Brasil, Alemanha, Inglaterra e França juntos. Europa e América Latina que se preparem para a concorrência.
Opinião do editor (Rodrigo Capelo): O ‘soccer’ vem aí
Nas Copas de 2010 e 2014, a história dos Estados Unidos foi basicamente a mesma: peitou grandes seleções na primeira fase, avançou às oitavas de final e caiu para uma adversária nem tão assustadora assim. É uma história que tem tudo para mudar em 2018 ou 2022.
O catalisador de qualquer esporte é o público, e os americanos dão sinais claros de que têm interesse no futebol. Basta checar audiências da Copa na televisão e em mídias digitais. Parte desses milhões vai se desinteressar pela liga americana, a MLS, mas parte vai continuar a consumir futebol, ainda que campeonatos europeus ou Liga dos Campeões.
Esta crescente base de simpatizantes faz a roda girar. Mais audiência leva a mais emissoras interessadas no produto, que leva a mais dinheiro pago pelos direitos de transmissão, que leva a clubes e ligas com mais verba para contratar astros, que leva a mais interesse do público.
Some ainda a disposição de bilionários como o brasileiro Flávio Augusto da Silva, do Orlando City, de contratar nomes como Kaká. Há uma diferença entre ricaços como ele e os de Emirados Árabes ou China que seduzem astros com milhões: os americanos da MLS não são meros aventureiros. Há planejamento para difundir o esporte e a liga.
Há quem diga que, quando os americanos decidirem ganhar no “soccer”, não vai sobrar para ninguém. Este dia pode estar mais próximo do que imaginávamos.