Dirigentes europeus aumentaram a pressão sobre a Fifa após a entidade decidir que não houve violação de suas regras durante o processo de escolha de Rússia e Qatar à sede das Copas do Mundo de 2018 e 2022. Há quem defenda que os países da Uefa devem dar um ultimato à Fifa ou até boicotar o próximo Mundial, daqui quatro anos.
A proposta mais radical foi lançada por David Bernstein, ex-presidente da FA (federação inglesa de futebol), para pressionar a Fifa a promover reformas estruturais. Segundo o dirigente, a iniciativa só pode ir adiante, se outros países apoiarem a proposta. “A Inglaterra sozinha não trará efeito concreto”, afirmou o dirigente, em entrevista à BBC.
Bernstein acredita que se houver adesão de Alemanha, Espanha, Itália, França e Holanda, irá crescer a pressão sobre a Fifa. “Parece drástico, mas isso já se arrasta há anos e não melhora. É preciso reforma, incluindo a saída de [Joseph] Blatter [que busca o quinto mandato]. Há 54 países na Uefa. Você não pode realizar uma Copa do Mundo sem eles. Esses países têm o poder de influenciar”, afirmou.
Já Reinhard Rauball, presidente da Liga Alemã de Futebol, defende que a Uefa pressione a Fifa, para que publique a íntegra do relatório de Michael Garcia, que passou 18 meses investigando a eleição para as duas próximas Copas do Mundo. O advogado criticou a divulgação de uma versão resumida de seu documento de 430 páginas que teria apontado várias irregularidades na entidade. Para a Fifa, não houve violação de suas regras durante o processo de escolha.
“Isso abalou os alicerces da Fifa de uma maneira que eu nunca tinha visto antes. A publicação do relatório na íntegra é a única maneira de lidar com a perda completa de credibilidade”, afirmou o alemão ao site Kicker.
Segundo ele, caso não sejam tomadas providências, a Uefa deveria se desfiliar da Fifa.
Os escândalos de corrupção que assolam a entidade já fizeram com que a federação perdesse dois de seus patrocinadores, Sony e Emirates, que decidiram não renovar contrato.
Na semana passada, outro escândalo respingou no tapete da sede da Fifa, em Zurique, na Suíça. A Anistia Internacional divulgou um relatório bombástico apontando a existência de trabalho similar ao escravo nas obras de infraestrutura da Copa do Qatar.
Segundo a ONG defensora de direitos humanos, trabalhadores norte-coreanos têm até 90% do salário desviado para o governo de Pyongyang. Não há direitos trabalhistas, as jornadas são extensas e as condições de segurança, mínimas. Calcula-se que 4.000 operários tenham morrido durante as obras (não há estatística oficial).
“A escolha do Qatar foi uma das decisões mais ridículas da história do esporte. Você poderia muito bem ter escolhido a Islândia no inverno. Foi uma decisão digna de ‘Alice no País das Maravilhas’”, criticou Bernstein, que comparou a administração da Fifa aos tempos de “totalitarismo soviético”.
Bonita Mersiades, chefe de comunicações da candidatura da Austrália à Copa de 2022, e uma das pessoas que denunciaram irregularidade no processo de escolha, fez críticas contundentes à solução apresentada pela Fifa para o problema. “É uma entidade que, em matéria de gestão, é uma farsa.”