A decisão da Fifa de alterar as datas de disputa da Copa do Mundo do Qatar pode render um problema adicional à entidade: a oposição dos detentores dos direitos de TV. O mais descontente com o novo calendário é o empresário de comunicações Rupert Murdoch.
“A Fox Sports comprou os direitos da Copa do Mundo pensando que o evento seria no verão [do Hemisfério Norte], como acontece deste 1930”, afirmou o empresário ainda em 2013, quando começou a discussão sobre possível mudança de calendário.
Em 2011, a Fox Sports desembolsou US$ 425 milhões para garantir os direitos de transmissão dos Mundiais da Rússia-2018 e Qatar-2022 para os Estados Unidos. Para ficar com os dois eventos, venceu acirrada concorrência da ESPN. Com a alteração, a TV terá que rever toda sua programação de atrações. A Fox Sports detém direitos de transmissão de competições como Liga dos Campeões, NBA, NFL, PGA (golfe), MLB (beisebol) e a Fórmula E.
A emissora de Murdoch não descarta processar a Fifa, já que no momento da assinatura do contrato com o Qatar não foi prevista a possibilidade de alteração de datas. A entidade suíça, porém, sinalizou com a conciliação há algumas semanas, quando vendeu, de forma antecipada, os direitos de TV da Copa do Mundo de 2026, que ainda nem tem sede, para a emissora fechada dos Estados Unidos.
No rol de insatisfeito estão os clubes e as ligas europeias que serão obrigados e paralisar a disputa por mais de um mês. Jerome Valcke, secretário-geral da Fifa já avisou que os clubes não terão nenhum privilégio por conta da mudança de datas. “Não haverá compensação. Isso quer dizer que eles [clubes] têm sete anos para reorganizar o futebol ao redor do mundo para a Copa”, afirmou o dirigente.
Com a mudança de calendário, as ligas nacionais devem adiantar seu início em 2022. Provavelmente, os campeonatos começariam em julho, sendo que junho seria o mês das férias dos jogadores. A pré-temporada seria abreviada.
Já a Liga dos Campeões possivelmente estrearia a fase de grupos em agosto. Ou engataria o campeonato após a Copa, sem a tradicional interrupção nos meses de janeiro até meados de fevereiro.
O principal evento da Fifa, por sua vez, também será prejudicado com a mudança de data. A proposta da entidade é realizar a competição de 19 de novembro a 23 de dezembro, com final às vésperas do Natal. Isso também gerou insatisfação nos clubes, que pedem uma Copa do Mundo mais enxuta, com apenas 23 dias.
As equipes também reivindicam que o período de preparação das seleções seja abreviado para duas semanas, com menos datas Fifa para amistosos. A entidade que comanda o futebol, por sua vez, quer iniciar a concentração das seleções em 1º de novembro.
“Por que não nos organizamos de uma vez, sem protestar e dizer que não é possível? Acredito que seja possível”, afirmou Valcke, durante entrevista coletiva realizada em um hotel de Doha.