A depender de quem se apresentar para a sucessão na Fifa, a renúncia de Joseph Blatter pode representar o fim da era João Havelange na Fifa. Embora tendo renunciado ao cargo de presidente honorário da entidade há dois anos, o brasileiro viu sua eminência parda comandar o futebol desde que deixou a presidência, em 1998.
Em 41 anos de poder, a era Havelange-Blatter gerou para o mundo da bola contratos cada vez mais polpudos, atração de patrocínios milionários e visibilidade de TV em nível planetário. De olho no business, Havelange costurou a reaproximação da China com o esporte. A dupla formatou uma série de competições que serviu para desenvolver o futebol e como moeda de troca por apoio político. Assim, surgiram os Mundiais sub-20 e sub-17, a Copa do Mundo feminina e o Mundial de futsal, esporte que a Fifa abraçou nos anos 80.
Por outro lado, a Fifa viveu a era do escândalo, com denúncias de corrupção que minaram grandes aliados dos comandantes da Fifa, como Jack Warner e Mohammed bin Hamman.
Para satisfazer patrocinadores e dar um ar de seriedade à federação, Blatter chamou Michael García, um impoluto ex-promotor federal dos EUA, para investigar as licitações para as Copas de 2018 e 2022. O desprezo ao relatório de 1.500 páginas do norte-americano gerou ainda mais desgaste com os parceiros comerciais da Fifa e um inimigo poderoso.
É difícil mensurar o quanto as descobertas de García ajudaram na investigação do FBI sobre fraude, extorsão e lavagem de dinheiro. Mas a sujeira cada vez mais ameaça manchar o impecável terno do agora ex-dono da bola.
O que irá surgir dessa Fifa dos escândalos de corrupção e da imagem arranhada ainda é cedo para saber. Uma conclusão, porém, é fácil de tirar dessa crise toda: bem gerido, o futebol poderia ser muito maior do que é.