A Fifa acaba de confirmar o afastamento de Jérôme Valcke do cargo de secretário geral da entidade. A decisão acontece após a revelação feita por dez veículos de mídia, entre eles “O Estado de São Paulo”, de que o ex-dirigente faturou em cima da venda irregular de ingressos para a Copa do Mundo de 2014.
Os veículos divulgaram trocas de e-mail que confirmavam a participação de Valcke na venda de 8,3 mil ingressos do Mundial no Brasil, num esquema que rendeu cerca de 2 milhões de euros para o executivo.
A acusação partiu de Benny Alon, dono da JB Marketing, empresa que trabalha desde 1990 com a venda de bilhetes para a competição, e foi repassada a veículos em todo o mundo. A reportagem do “Estadão” mostra uma troca de e-mails do empresário com o ex-secretário geral da Fifa em que as entradas para os três primeiros jogos da Alemanha, campeã do torneio, foram vendidas por US$ 570, o triplo do valor original.
“Ganhamos US$ 114 mil cada sobre a Alemanha”, disse Alon para Valcke em um e-mail. As negociações tinham o aval da Fifa. Para os jogos das oitavas de final, os ingressos de US$ 230 eram vendidos por US$ 1,3 mil; 50 desses bilhetes eram para jogos em São Paulo.
O afastamento de Valcke é mais um capítulo na crise aberta em 27 de maio na Fifa, com a prisão de sete dirigentes ligados à entidade por corrupção, em ação feita pelo FBI americano antes da reunião do comitê executivo da entidade, em Zurique, na Suíça.
Semanas após a prisão, o presidente Joseph Blatter anunciou sua renúncia ao cargo para o qual havia acabado de ser reeleito, convocando para fevereiro próximo as novas eleições na Fifa. Um comitê de transição foi criado e, desde então, a entidade passou a ser mais severa para tentar conter atos que pudessem colocar em xeque a credibilidade da Fifa.
Até então, porém, a crise envolvia dirigentes de outras entidades filiadas à Fifa, mas que não trabalhavam diretamente na entidade. Com o escândalo tendo Valcke como pivô, a história muda de figura. Na última semana, a Fifa já havia anunciado mudanças na composição do comitê executivo, reduzindo o poder de dirigentes ligados à entidade e colocando mais força nos patrocinadores e em figuras externas.
Agora, sem o seu secretário geral, Joseph Blatter fica ainda mais enfraquecido dentro da entidade. O dirigente, que sempre negou que a corrupção estivesse dentro da Fifa, tinha em Valcke o seu braço-direito.