Corria o mês de março de 2012. Em entrevista na Inglaterra, com seu costumeiro ar blasé mesmo na hora de críticas contundentes, Jérôme Valcke disse que o Brasil merecia um “chute no traseiro” pelo atraso nas obras para a Copa do Mundo de 2014. Dois anos depois, o evento lhe rendeu quase R$ 9 milhões com a venda ilegal de ingressos superfaturados. Poucas horas após a denúncia do esquema na última quinta-feira (17), a Fifa anunciou o afastamento de seu (ex) secretário-geral até segunda ordem.
Enfrentando a pior crise ética de sua história, a entidade agiu rápido para mostrar que, apesar da profusão de problemas, continua firme no propósito de brecar a corrupção. A queda de Valcke é fruto da filosofia de tolerância zero implantada por François Carrard, contratado em agosto para gerenciar o processo de reformulação interna da Fifa. Com Joseph Blatter contando os minutos para deixar o cargo, o suíço de 77 anos, responsável por limpar o COI após a polêmica de Salt Lake City, tenta tomar as rédeas para colocar o esporte novamente nos trilhos.
Se havia a preocupação de que a entidade ficasse à deriva no período de transição do poder, a queda do braço direito de Blatter é um sinal de que o futebol tenta a fórceps extirpar seus tumores para seguir adiante. Ao mesmo tempo, o caso reforça a falta de escrúpulos tão arraigada à Fifa. O último a sair, por favor, apague as luzes. E àquele que chegar em fevereiro de 2016, boa sorte. Não vai ser uma tarefa fácil comandar a terra arrasada do futebol mundial.