Quatro meses após o estouro de corrupção que culminou na prisão de sete dirigentes do futebol na Suíça, o cerco continua apertando sobre Joseph Blatter, que comandará a Fifa até fevereiro de 2016 após renunciar ao cargo. O presidente da entidade está sob a mira da Justiça na Suíça e responderá a processo por suspeitas de má gestão e apropriação indevida de ativos.
A investigação tem como foco duas operações de pagamento ilegal realizadas entre janeiro de 1999 e junho de 2002. Em uma delas, o francês Michel Platini, presidente da Uefa e aspirante ao cargo máximo na Fifa, teria recebido 2 milhões de francos de Blatter sem justificativa plausível.
Outro cerne da questão é a venda dos direitos de transmissão para Jack Warner, então presidente da Associação de Futebol do Caribe, por um valor abaixo do mercado. O documento afirma que o fato “poderia ser criminalmente relevante”.
Em nota divulgada nesta sexta-feira (25), a Fifa confirma ter sido alvo de investigação da procuradoria-geral da Suíça, que recolheu documentos e depoimentos na sede da entidade. “Facilitamos essas conversas como parte da nossa cooperação em curso”, diz o comunicado emitido pela organização máxima do futebol mundial.
Platini, que já oficializou sua candidatura à presidência da Fifa, ainda não se pronunciou sobre as acusações. A coletiva de imprensa que seria realizada na sede da entidade nesta sexta-feira, após reunião do Comitê Executivo, foi cancelada após a nova série de acusações. No encontro, ficou definida a realização da Copa do Mundo do Qatar entre os meses de novembro e dezembro de 2022, em função do clima desértico no país.
A sede da entidade está cercada por jornalistas que esperavam pela coletiva e, agora, aguardam os desdobramentos da ação penal contra Blatter e os primeiros indícios do envolvimento de Platini em corrupção.
Na semana passada, ex-secretário-geral da Fifa, Jérôme Valcke, foi afastada das suas funções após ser revelado seu envolvimento em um esquema de superfaturamento e venda ilegal de ingressos para a Copa do Mundo de 2014, no Brasil.
Este é mais um capítulo na crise aberta em 27 de maio na Fifa, com a prisão de sete dirigentes ligados à entidade por corrupção, em ação feita pelo FBI americano antes da reunião do comitê executivo da entidade, em Zurique, na Suíça.
Semanas após a prisão, o presidente Joseph Blatter anunciou sua renúncia ao cargo para o qual havia acabado de ser reeleito, convocando para fevereiro próximo as novas eleições na Fifa. Um comitê de transição foi criado e, desde então, a entidade passou a ser mais severa para tentar conter atos que pudessem colocar em xeque a credibilidade da Fifa.
Até então, porém, a crise envolvia dirigentes de outras entidades filiadas à Fifa, mas que não trabalhavam diretamente na entidade. Com o escândalo tendo Valcke como pivô, a história muda de figura. Na última semana, a Fifa já havia anunciado mudanças na composição do comitê executivo, reduzindo o poder de dirigentes ligados à entidade e colocando mais força nos patrocinadores e em figuras externas.
Em maio, Michel Platini foi um dos principais adversários de Blatter na tentativa de manter seu posto na Fifa, mesmo sem disputar a eleição. O francês chegou a cogitar a hipótese boicotar o pleito caso o dirigente não renunciasse e manifestou publicamente seu apoio ao príncipe jordano Ali Bin Al Hussein. Após o anúncio de novas eleições, Platini classificou a atitude de Blatter de “corajosa”.