A luta de Yelena Isinbayeva para competir nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro de 2016 é, além de comovente, um alerta que ultrapassa as fronteiras do esporte. A recordista mundial do salto com vara cogita competir sob a bandeira olímpica caso a suspensão da Rússia seja mantida até a competição.
Já disse Nelson Rodrigues que toda unanimidade é burra. A generalização, também. Toda a campanha por ética e transparência no esporte tem dois lados. É preciso punir com rigor os envolvidos no caso de doping no atletismo russo. Na mesma proporção, é preciso deixar claro que nem todo atleta russo compete sob o efeito de substâncias ilícitas.
Guardadas as devidas proporções esportivas e sociais, atribuir o fardo do doping a todos os atletas russos é o mesmo que espalhar que todo muçulmano é terrorista. Todo negro é pobre ou ladrão. E todas essas lendas urbanas criadas – ou não – a partir de um fato isolado. O preconceito começa a se enraizar em momentos como esse.
Os atletas vivem de imagem e performance, distribuídos de forma igualitária na equação do sucesso. O esquema de doping escancarado na Rússia é tão daninho para o esporte que, dificilmente, os envolvidos terão uma segunda chance.
Limpa, a carreira de uma atleta brilhante, dona de 28 recordes mundiais aos 33 anos, não pode ficar maculada pelo doping. Seria irreversível para Isinbayeva, já arranhada pelas acusações de homofobia há dois anos. Seria uma perda irreparável para as Olimpíadas do Rio.
Antes de rotular, o esporte precisa aprender a separar o joio do trigo.