O segundo relatório da Comissão Independente da Wada (Agência Mundial Antidoping) aponta nova cobrança de propina feita pelo filho de Lamine Diack, ex-presidente da Iaaf (Associação Internacional das Federações de Atletismo). Papa Massata Diack teria cobrado suborno da turca Asli Cakir Alptekin, campeã olímpica dos 1.500 m, para encobrir seu caso de doping.
Não é o primeiro caso. O dirigente também teria negociado propina para encobrir o doping da russa Liliya Shobukhova, em caso que já havia sido revelado.
Apenas 18 dias após a conquista do ouro em Londres-2012, a Federação Turca de Atletismo recebeu notificação da Iaaf de que os níveis de hemoglobina da atleta haviam mostrado alteração em seu passaporte biológico, a partir de nove amostras coletadas.
Três meses depois, dois representantes de Alptekin viajaram a Mônaco para se reunir com Papa Massata. O então consultor de marketing da Iaaf, após remarcar o encontro para três hotéis diferentes, pediu inicialmente uma propina de € 650 mil para resolver o problema. Em seguida, reduziu o valor para € 300 mil. O acordo, porém, não aconteceu, já que os representantes de Alptekin se recusaram a pagar.
Dias depois, Papa Massata viajou para a Turquia para se encontrar com a própria atleta e seu marido. Na ocasião, avisou que poderia resolver o caso junto a Gabriel Dollé, chefe do programa antidoping da Iaaf, mediante um pagamento que ficaria entre € 100 mil e € 250 mil. Durante o encontro, o senegalês atendeu o celular três vezes pretensamente para falar com Dollé. Dessa vez, Alptekin concordou em pagar, adiantando uma propina de € 35 mil em dinheiro.
Dias depois, a federação turca recebeu carta enviada por Dollé propondo o banimento da aleta. Papa Massata, por sua vez, enviou e-mail para Alptekin dizendo que tentaria adiar o início da suspensão para março de 2013, com isso preservando sua medalha olímpica.
Dias depois, a atleta foi inocentada em um primeiro painel, realizado na Holanda. A Iaaf, porém, ainda poderia recorrer da sentença. Foi quando um dirigente da federação turca entrou em contato com Alptekin dizendo que quem poderia resolver a situação era Khalil Diack, outro filho de Lamine. Khalil iria convencer o pai a não apelar.
Entre janeiro e fevereiro de 2014, Khalil e sua mulher viajam diversas vezes a Istambul, com despesas, que ficaram entre € 20 mil e € 25 mil, custeadas por Alptekin. Nada disso adianta para a atleta, e no dia 12 de fevereiro, a Iaaf apelou da decisão. O caso chegou à Corte de Arbitragem do Esporte, última instância de julgamento no esporte, e a corredora acabou sendo punida com oito anos de suspensão, perdendo a medalha olímpica.