O esquema de acobertamento de doping da Iaaf (Associação Internacional das Federações de Atletismo) chegou até ao presidente da Rússia, Vladimir Putin. Essa é uma das histórias contadas pelo segundo relatório da Comissão Independente da Wada (Agência Mundial Antidoping) que investiga o escândalo de doping no atletismo.
“Esse é o momento de a Iaaf promover reformas”, afirmou Dick Pound, presidente da comissão e ex-mandatário da Wada, em entrevista coletiva realizada em Munique, na Alemanha.
O relatório conta que Huw Roberts, advogado da Iaaf, apresentou ao presidente Lamine Diack uma lista de nove atletas russos flagrados em exames, mas cujos casos ainda não haviam sido resolvidos às vésperas do Mundial de Moscou-2013.
“LD [sigla para Lamine Diack] explicou que estava em uma posição difícil, que só poderia ser resolvida pelo presidente Putin, da Rússia, com quem tinha iniciado uma amizade”, afirma o documento. Os nove atletas não competiram em Moscou. No entanto, nenhum deles foi punido.
Segundo o relatório, era impossível o Conselho da Iaaf “não percebesse a dimensão do problema do doping e da violação das regras”.
Para o brasileiro Roberto Gesta de Melo, porém, os membros da principal instância decisória da federação tinham conhecimento limitado sobre o que acontecia. “Há muita especulação sobre o que cada um sabia. Mas o Conselho se reunia uma vez por ano. No máximo duas. Havia pouca condição de saber alguma coisa.”
Ontem, a Interpol expediu um mandado de prisão para Papa Massata Diack, filho de Lamine, que exercia o cargo de consultor de marketing da Iaaf antes de ser banido do esporte. Papa Massata é acusado de corrupção e lavagem de dinheiro. Seu pai já está preso na França há dois meses.
No relatório da Wada, Papa Massata é citado por cobrar propina da russa Liliya Shobukhova e da turca Asli Cakir Alptekin. O primeiro caso já era público. Mas o pedido de suborno para a campeã dos 1.500 m em Londres-2012 é novidade.
O dirigente chegou a pedir propina de € 650 mil, mas acertou um pagamento entre € 100 mil e € 250 mil. Semanas depois, Khalil, irmão de Papa Massata, também pediu propina. Apesar de pagar a ambos, Alptekin acabou sendo condenada a oito anos de suspensão e perdeu a medalha olímpica.