Entre desfalques e ameaças, ninguém imaginava que a Primeira Liga chegaria tão longe há dois meses. Com o início da venda de ingressos e tabela definida com os primeiros jogos já na semana que vem, é difícil imaginar um retrocesso neste ponto, ainda que muita gente torça o nariz para a Liga Sul-Minas-Rio.
É certo que o campeonato chega para inchar um calendário já saturado pela quantidade de jogos. Pela primeira vez desde que o projeto foi revelado, um jogador falou publicamente sobre o tema. D’Alessandro, do Internacional, disse torcer para que o torneio não vingue.
A trajetória da Primeira Liga foi, sim, marcada por atropelos no seu desenvolvimento, mas é inegável que a simples existência de um movimento capaz de desafiar o modelo de gestão vigente no futebol é absolutamente salutar e necessária, principalmente em um momento de uma crise de ética sem precedentes no esporte em todo o mundo.
A pressão da Ferj sobre Flamengo e Fluminense, ameaçando os clubes inclusive de desfiliação, suscitou uma união poucas vezes vistas no futebol. Se o ditado popular de que a união faz a força é clichê e piegas, neste caso ele se encaixa como uma luva nas pretensões da Primeira Liga.
O simples rumor de boicote ao Campeonato Brasileiro fortalece os laços criados pelos 15 clubes neste período. Ninguém imagina a principal competição de futebol do país sem Flamengo, Atlético-MG e Grêmio, por exemplo. Alguém vai ter de ceder. E, assim, a Primeira Liga, legitimada pela Lei Pelé, era o terremoto que faltava para sacudir as estruturas do combalido futebol brasileiro.