Como dimensionar o tamanho de um mito? Muhammad Ali, que morreu na madrugada do último sábado (dia 4), era um daqueles ícones do esporte que transcende sua época.
As novas gerações não o viram lutar. No seu tempo, essa parafernália de redes sociais e compartilhamento de vídeos ainda não existia, o que superdimensiona o desempenho de qualquer astro do esporte atual. Mas Ali superou a barreira do tempo.
O ex-pugilista, que lutava contra um adversário cruel, o Parkinson, havia pelo menos 20 anos, finalmente descansou em paz, em Phoenix, no Arizona.
Ironicamente fênix, a ave que ressurgia das cinzas e inspirou o nome da capital do Arizona, é um resumo do que foi a carreira do pugilista. Ali soube sempre se reinventar.
Jovem, Cassius Clay conquistou o ouro na Olimpíada de Roma-1960. Dias depois, o descartou nas águas do rio Ohio após ser vítima de racismo em uma lanchonete.
Campeão mundial dos pesados pela primeira vez, ao nocautear Sonny Liston, apelidado por ele de “Grande Urso Feio”, Clay anunciou ao mundo pela primeira vez a conversão ao islamismo e a adoção do nome Muhammad Ali.
Anos depois, seria preso e destituído de seus títulos ao recusar o alistamento para a Guerra do Vietnã. Perdeu três dos que poderiam ter sido seus mais produtivos anos de carreira.
Ganhou o mito. Em 1974 protagonizou a “Batalha na Selva” ao derrotar George Foreman no Zaire e recuperar o título mundial. No ano seguinte, disputou uma sangrenta luta contra Joe Frazier, no combate em que confessou ter sido o mais perto que havia chegado da morte, que o levaria 41 anos depois.
Morte que não apaga a lembrança de uma carreira brilhante. Poucos atletas se mantêm como ícones do esporte 35 anos depois da aposentadoria. Mas o mito superou o tempo. Em 2015, Ali assinou com a Under Armour e estrelou campanha em que apareciam apenas antigas imagens já que, bastante debilitado, raras eram suas aparições públicas. No filme, Ali inspirava as novas gerações. Inspiração que, assim como fênix, não irá se perder com o tempo.