Executivo do Borussia: “Nós não somos uma empresa de negócios” (Foto: Bundesliga)
O ano era 1997. O Borussia Dortmund conseguia seu ápice dentro de campo: consagrou-se campeão da Liga dos Campeões da Europa. No fim daquele ano, o time ainda derrotou o Cruzeiro na final da Copa Intercontinental. Parecia a consagração de um grande clube, mas na década seguinte pouco se ouviu falar da equipe alemã. Para voltar ao protagonismo, ela precisou se reinventar.
O problema é que, em 2005, com dívidas que passavam dos € 180 milhões, o Borussia Dortmund esteve próximo de abrir falência. Na época, Reinhard Rauball havia assumido a presidência da equipe. E a recuperação do time foi tão notável que hoje o dirigente comanda a Liga de Futebol Alemão e a Federação de Futebol do país.
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Hoje, a situação é diferente. Na temporada 2014/2015, o time bateu seu recorde de faturamento: foram € 276 milhões, com lucro de € 5,5 milhões. Com grandes revelações em campo, o time voltou a ser campeão alemão em 2011 e em 2012. Em 2013, a equipe disputou novamente a decisão da Liga dos Campeões; o título foi perdido para o Bayern de Munique.
Reinhard Rauball foi responsável por uma profunda reestruturação financeira do clube, mas foi um trabalho de marca de longo prazo que mais ajuda a entender a recuperação do Borussia Dortmund. A equipe se voltou ao seu público, seu torcedor, e passou a se posicionar como resistência local frente a gigantes da Europa.
“Nós somos de Dortmund, não de Munique, de Berlim ou uma grande capital europeia. Nós somos um clube menor, mais familiar. Definitivamente, nós vamos desafiar os outros, mas temos que saber que jamais competiremos com Real Madrid ou Barcelona. Se nós nos compararmos aos outros, sempre perderemos. Nós temos que seguir nosso próprio caminho”, explicou o diretor de marketing do clube, Carsten Cramer.
Esse olhar para o próprio público atingiu números impressionantes. Dortmund é uma das maiores cidades do Vale do Ruhr, com população próxima dos 600 mil. A região é a maior área metropolitana da Alemanha, mas, focada na atividade industrial, já não vive seu ápice financeiro. Isso não impede, no entanto, que o Borussia tenha a maior média de público entre os grandes clubes europeus: são 81,1 mil pessoas, contra 78,8 mil do Barcelona, o segundo colocado.
Com o trabalho realizado, o clube conseguiu ser uma paixão ainda maior em sua cidade. Em sócios, por exemplo, o número saltou de 31 mil em 2009 para 138,5 mil em 2016. Hoje, a temporada do time já começa com 55 mil carnês vendidos. O Paredão Amarelo, área mais popular do estádio Signal Iduna Park, ganhou a atenção do mundo com suas festas e mosaicos.
Hoje, assim como a Bundesliga, o Borussia quer ganhar mercado internacional para continuar crescendo. Mas, para conquistar esse novo objetivo, quer manter seu DNA focado no campo e nas arquibancadas, longe das mesmices associadas ao “futebol moderno”.
“O mais importante ativo do Borussia Dortmund é ser bem-sucedido no esporte. Enquanto nós disputarmos a Liga dos Campeões, enquanto nós permanecermos competitivos na Bundesliga, pessoas de outros países estarão interessados no Borussia Dortmund. O esporte é nosso principal ativo porque nós somos um clube de futebol. Nós não somos uma empresa de negócios”, resumiu Carsten Cramer.
*O reporter viajou a convite da Fox Sports.