A aposta no momento econômico e esportivo do Brasil já virou praticamente um clichê. Para a Shimano, porém, o país tem um peso extremamente especial. A fabricante de peças e acessórios para ciclismo cresceu 30% na região entre 2010 e 2011, e espera fechar este ano com mais um salto da mesma proporção. Para isso, aposta fortemente na participação de atletas e embaixadores.
Essa prática de endosso é usada pela Shimano em uma série de eventos. Mais do que mídia ou comunicação de massa, a empresa investe nessas ocasiões para mostrar na prática o nível de tecnologia de seus produtos.
Para 2012, a grande aposta é a linha DI2. A coleção foi apresentada à imprensa nesta semana, em São Paulo, e tem como grande diferencial o câmbio com componentes eletrônicos. O sistema é usado globalmente pela empresa desde 2009.
Também foi em 2009 que a Shimano Latin America assumiu totalmente o controle da operação no Brasil – anteriormente, a marca era representada no país pela BIC Brazilian International.
O responsável por essa operação é Fabio Takayanagi, presidente da Shimano na América Latina. Em entrevista exclusiva à Máquina do Esporte, o executivo explicou os planos de comunicação da marca para o mercado brasileiro.
Takayanagi também falou sobre a importância que o país tem adquirido nos planos da marca. A meta da Shimano é dobrar de tamanho no país daqui a quatro anos.
Para isso, Takayanagi aposta no momento do Brasil, mas também acredita no crescimento do interesse da população local pelo ciclismo.
Leia a seguir a íntegra da entrevista:
Máquina do Esporte: Qual é o peso do Brasil como mercado para a Shimano?
Fabio Takayanagi: Nós não estamos divulgando valores individuais de cada país. O que eu posso dizer é que o continente latino-americano, para nós, representa US$ 60 milhões em venda. Dessa porção, o Brasil ocupa um lugar disparado de primeiro lugar e continua crescendo. Nos últimos anos, nosso crescimento no Brasil e na América Latina tem sido muito grande. Estamos muito felizes de estar ao lado do consumidor brasileiro e queremos manter esse contato para continuar crescendo junto com o país.
ME: Qual é a participação de mercado da Shimano atualmente e quanto a marca espera atingir nos próximos anos?
FT: É difícil falar em participação de mercado porque é um mercado que não tem números públicos. Acreditamos que em toda a área, desde os componentes de entrada até os TOP, ocupamos uma posição de liderança, em alguns casos absoluta. Aqui no Brasil, no ano passado foram 30% mais do que no ano anterior. Pensamos em crescer outros 30% neste ano, e daqui a quatro anos esperamos dobrar de tamanho. Temos dois escritórios na América Latina, com quase 50 funcionários que trabalham muito perto dos consumidores e estão muito focados na parte técnica. Esses funcionários fornecem muitas palestras técnicas para mostrar toda a tecnologia empregada nos nossos produtos.
ME: A Shimano lançou uma linha de bicicletas com componentes eletrônicos e uma série de evoluções tecnológicas. Em vários aspectos, esses produtos remetem ao LZR, traje que a Speedo criou para a natação e chamou muita atenção na época dos Jogos Olímpicos de Pequim, mas que depois foi proibido pela FINA. Existe um temor de que o mesmo aconteça com a nova linha da Shimano?
FT: Nós estamos tranquilos. O que fazemos é trabalhar duro para proporcionar aos atletas o melhor que existe para que eles possam ter a melhor performance. Isso está de acordo com o objetivo de qualquer atleta, mas também das Olimpíadas e das competições como um todo. A meta é proporcionar ao público a melhor atração possível. Então, acho que não irá nessa direção.
ME: Mas existe base na regra para o uso dos componentes das novas bicicletas da Shimano?
FT: Está dentro da regra, sim. Aliás, já participamos de várias competições com essa tecnologia, como o Tour de France e o Giro de Itália. Temos total respaldo da UCI.
ME: É possível dizer que acontece o contrário do que ocorreu com o LZR, então? Em vez de ser proibido, o uso da eletrônica nas bicicletas pode virar tendência?
FT: Já existe concorrente lançando grupos com marcha eletrônica. Acho que esse é o caminho.
ME: E a comunicação dessa linha no Brasil, como vai ser feita?
FT: Nossa atuação é mais por meio dos nossos atletas patrocinados, ou então por contato direto com consumidores e lojistas. Acreditamos que mostrar a realidade dos nossos produtos é o nosso melhor cartão de visitas.
ME: Mas isso não cria um paradoxo? O produto que esses embaixadores usam é bem diferente do que vende mais no Brasil, não é?
FT: Na verdade, vendemos bem de cima até embaixo. Temos uma felicidade de ter consumidores de todos os bolsos no Brasil, com um volume muito grande. As vendas são muito boas em toda a cadeia, e tentamos chegar a todos esses consumidores da mesma maneira. Explicamos as virtudes de cada faixa e mostramos a qualidade dos produtos.
ME: Existe alguma linha que seja prioridade para vocês em termos de comunicação?
FT: Por causa da Olimpíada, agora estamos divulgando bastante a linha DI2. Mas ao mesmo tempo, vemos um movimento muito grande dos consumidores querendo pedalar na cidade, num ambiente tranquilo, com a companhia da família. Isso nos fez lançar aqui no Brasil neste ano uma solução que é muito prática, que é o câmbio com mudança no cubo interno. Trata-se de um equipamento que não tem engrenagem e a parte de fora; tudo está resumido em um cubo, e você pode trocar a marcha com a bicicleta parada. A facilidade que isso traz para a pessoa que não está acostumada com a bicicleta é enorme. Acreditamos muito nesse produto, e estamos trabalhando fortemente para que ele seja mais conhecido pelo público brasileiro. Várias montadoras de bicicleta já têm esse produto ou estão lançando nos próximos meses.
ME: O foco da Shimano em termos de mercado é ganhar participação ou desenvolver uma seara em que a empresa já é soberana?
FT: Nós trabalhamos para desenvolver o mercado. Patrocinamos vários eventos, principalmente corridas, tanto de estrada quanto mountain bike e triatlo. Sempre estamos lá com a nossa equipe de apoio neutro, que oferece pequenos ajustes e pequenos consertos ao atleta, que é o nosso consumidor. Esse relacionamento é muito importante para nós. Ele mostra nossa tecnologia e nosso conhecimento. Estamos praticamente todo fim de semana em algum lugar.
ME: Como o ciclismo não é uma modalidade com muita mídia no Brasil, é possível dizer que o principal esforço de comunicação da Shimano é em eventos?
FT: Sim. Sem dúvida alguma.
ME: Os atletas que vocês apoiam têm algum compromisso de participar desses eventos?
FT: Não interferimos na agenda deles. O que nós queremos é proporcionar melhor performance, e eles escolhem onde querem atuar. Existe apenas o Shimano Fest, que vai reunir todos os nossos atletas. Temos uma abertura maior com o público consumidor nesse evento. Convidamos até concorrentes para mostrar seus produtos e para que eles tenham um fim de semana feliz com a bicicleta.
ME: Todos os planos de comunicação da Shimano parecem muito focados na parte técnica. Mais do que construir marca, o foco da empresa é mostrar eficiência em um modelo muito mais alicerçado na parte prática?
FT: De um lado, mostrar eficiência, praticidade e conforto dos nossos produtos. Mas também trabalhamos muito para que o mercado e a cultura da bicicleta fiquem mais fortes. Queremos que mais pessoas possam estar perto da bicicleta. É por isso que nós criamos competições e eventos para as pessoas poderem andar de bicicleta. São dois pilares: mostrar a tecnologia e tentar que o mercado seja maior do que é.
ME: Quanto a companhia investe em comunicação no Brasil? Esse valor tem crescido na mesma proporção da companhia?
FT: Certamente. Eu não posso dizer valores, mas nosso investimento está sendo duplicado ano após ano.
ME: Como a Shimano vai se posicionar sobre os Jogos Olímpicos? Isso interfere nos planos da empresa para os próximos anos?
FT: Como nós comentamos, nossa atividade é mais pé no chão e mais perto do consumidor. Continuaremos com esse trabalho, mas como temos muitos atletas competindo com nossos produtos, certamente estaremos incorporando todas essas informações aos nossos contatos.
ME: Como é o modelo de distribuição de produtos da Shimano no Brasil?
FT: O Brasil é muito grande! Nós somos a cara da Shimano, mas temos oito distribuidores. Com isso, conseguimos chegar aos quase cinco mil lojistas espalhados pelo país inteiro. Essa estrutura nos dá bastante tranquilidade, mas sempre queremos chegar mais perto do público.