A NFL mostrou o que já se suspeitava: a liga irá ignorar os problemas sociais levantados pelos seus astros e passará um pano conservador em sua imagem. O objetivo é claro: manter-se longe de enfrentamentos políticos e de suas consequentes polêmicas. É o pensamento comum da maioria da elite; não seria diferente da elite que rege o esporte.
Dessa maneira, perde-se toda a luta de jogadores para que o país pudesse enxergar a manutenção do racismo. Por supostas razões econômicas, a principal liga esportiva do país vira as costas para o enorme poder transformador que o esporte detém. A NFL está abrindo mão de contar uma história bonita nos Estados Unidos.
E era difícil acreditar que algo diferente aconteceria. No ano passado, em meio as discussões de bastidores que rondaram a NFL para abolir os protestos no hino, o dono do Houston Texans, Bob McNair, soltou uma frase infeliz que resume o pensamento de quem administra o esporte: “Não podemos deixar os prisioneiros comandar a prisão”.
McNair, milionário que foi um dos contribuidores para a campanha de Donald Trump à presidência, pediu desculpas pela citação e se justificou pelo contexto. A frase foi dita após a ressalva do executivo de que “96% dos americanos apoiavam os caras de pé”.
Para o executivo, portanto, os jogadores que protestavam não tinham o direito de peitar a diretoria dos times e da liga porque, afinal, representavam uma minoria. Ignora, claro, o fato de que se não fosse uma minoria reprimida, não haveria nenhuma necessidade de protestos na mais rica economia do mundo.
Nem todos são como McNair e houve alguma divisão entre os donos de franquias da NFL. Mas no fim, pressionados pela audiência, pelo presidente da república e pelos supostos “96%”, a proibição de protestos no hino foi unânime.
Nos últimos dias, em uma tentativa de se mostrar socialmente útil, a NFL resolveu abraçar uma campanha social, como forma de compensar a nova medida que seria tomada na quarta-feira (23). Na segunda-feira (21), foi determinado um “pacto de justiça social” entre os atletas e os times. A iniciativa juntará no mínimo US$ 90 milhões para programas que combatem desigualdades sociais.
A iniciativa é bem-vinda, mas na prática seria como se, por respeito ao hino, os corredores Tommie Smith e John Carlos trocassem os punhos cerrados e erguidos no pódio por meia dúzia de cesta básica doadas às vítimas da segregação social em 1968.
No fim, a luta de atletas por mudanças sociais na NFL se transformou numa grande ação de RP. Na era dos milhões, o esporte tem tropeçado na capacidade de mudar o mundo.