Em um evento do porte da Copa do Mundo, a busca por ingressos é um dos aspectos que separa os torcedores em diferentes perfis. Os mais conservadores, endinheirados ou convidados por empresas vão nos camarotes, com alimentação, garçom e estacionamento reservado próximo ao estádio. Para isso, paga-se um múltiplo entre 2 a 5 vezes o valor do ingresso de categoria 1.
Foto: David Pinski
Os torcedores comuns são aqueles que entram no site da Fifa e, durante as cinco fases de compra, inscrevem-se com antecedência para os jogos, aumentam o limite do cartão de crédito e torcem para serem sorteados, especialmente para os jogos do Brasil e fases finais. Como todos estes ingressos têm alta demanda, boa parte desses potenciais torcedores comuns se transformam em torcedores de sofá, desistindo de vir à Rússia pois não foram sorteados.
Já os torcedores arrojados são os que vêm à Copa sem ingressos, mas com otimismo, bom relacionamento ou conhecimento para consegui-los faltando dias ou horas para os jogos. Como o Brasil proíbe a revenda de ingressos e não temos sites nacionais que fazem esse serviço, a ferramenta mais usada pelos brasileiros na Rússia para o comércio de ingressos são grupos de WhatsApp ou Facebook. Em ambas as plataformas, quem tem ingressos sobrando começa a oferta com altos valores e quem está sem nada negocia ou tenta a sorte na porta do estádio.
Este comércio funciona perfeitamente para explicar a teoria da oferta e demanda, as decisões econômicas impactadas pela emoção e o sangue-frio na hora de negociar. Vi pessoas anunciando arquibancadas para a final por R$ 20 mil (cerca de 7 vezes mais alto que o valor da Fifa) e gente pagando R$ 50 por um ingresso de um jogo prestes a começar, cujo valor original era de R$ 900. Jogos menos atrativos ou em cidades mais distantes de Moscou normalmente têm demanda reduzida, e os preços despencam. Já as partidas envolvendo seleções mais fortes e em Moscou ou São Petersburgo têm demanda mais alta, e os valores decolam. Os ingressos em papel, infelizmente, estimulam o comércio paralelo e o Fan Id, embora seja uma bela inovação, não muda isso.
Se a Fifa disponibilizasse um sistema de compra e revenda de ingressos até pouco antes do início dos jogos, faria com que as compras de ingressos individuais crescesse e sobrassem mais entradas para o “arrojado”. A entrada com ingressos carregados no cartão já acontece há anos no Brasil e poderia ser uma melhoria da Fifa para o Qatar.
* David Pinski é louco por futebol há 42 anos, marketeiro há 21 e está na sua 2ª Copa do Mundo