Uma das maiores diferenças entre assistir a um evento como a Copa no país onde ela ocorre é a interação de quem está por aqui com as torcidas. Cantores como os argentinos, fantasiados como os islandeses, surpresos como os russos, aguerridos como os uruguaios, orgulhosos como os colombianos, educados como os japoneses ou irreverentes como os brasileiros, cada turma de viajantes desfila pelas cidades com suas cores e transmite um pouco de sua cultura e jeito de ser, da maneira que torce por seu país e se comporta em locais públicos.
Não há como apoiar comportamentos totalmente inadequados de alguns brasileiros, que constrangeram uma russa com palavrões, outros que exageraram na bebida a ponto de subir em mesas de restaurantes ou tentaram beijar mulheres à força no meio da rua. Achar que a distância do Brasil e a proteção dos amigos lhes dá o “superpoder” de fazer o que bem entende sem respeito pelo próximo é um grande erro. Caberá a eles, além da Justiça, se forem processados, o constrangimento de ter a identidade revelada pelas redes sociais e precisar justificar o injustificável com família e amigos na volta.
Contudo, me preocupa quando leio textos como do excelente colunista gaúcho David Coimbra, da Zero Hora, concluindo sua coluna após duas más experiências em Kazan, com: “Se é desta juventude que dependemos, nem mil Lava-Jatos salvam o Brasil”. Com o alcance que tem, milhares de leitores ficarão com a sensação de que a torcida brasileira na Rússia é formada apenas por idiotas, que causam vergonha para o nosso país no exterior e, portanto, seria melhor que cerca de 50 mil turistas não tivessem vindo.
Ao ver a enorme receptividade dos russos com os brasileiros, o clima festivo e harmônico que nossa torcida causou ao chegar em Rostov, São Petersburgo, Moscou, Samara e Kazan, e a interação com torcedores de tantas nacionalidades, receio que meu xará gaúcho teve um grande azar de encontrar justamente com uma dúzia de idiotas ao invés de milhares de torcedores brasileiros que só fizeram orgulhar nosso verde-amarelo por aqui. Mesmo tendo sido forçados a nos despedir da Copa, deixaremos saudades na Rússia nesta fase semifinal, europeia até demais.
Um pouco deste nosso tempero tropical fará falta por aqui.
* David Pinski é louco por futebol há 42 anos, marketeiro há 21 e está na sua 2ª Copa do Mundo