A debandada dos investidores chineses do futebol europeu mostra como o esporte ainda dá muito espaço para aventuras e aventureiros. E, pior ainda, isso parece ser um fenômeno que acontece mundialmente.
A exceção talvez seja ainda o mercado americano. Por lá, com uma estrutura bem definida das ligas, que na realidade não deixa de ser um clube de amigos, os times têm um dono e acabam não deixando brecha para ninguém de fora da turma entrar.
Mas, na Europa, a revolução do futebol foi feita a partir da verba de bilionários de países emergentes, principalmente a partir do bem-sucedido caso do Chelsea e do excêntrico bilionário russo Roman Abramovich, que comprou o clube falido em 2003 e o levou ao mais alto lugar da Europa num espaço de menos de dez anos.
O sucesso de Abramovich inspirou outros bilionários a enxergarem, no glamour da bola, a possibilidade de ganho de status que o dinheiro teima em querer comprar.
Com uma estrutura falida, o futebol abriu as portas, sem qualquer critério, para a chegada dessas figuras exóticas. E isso causou um estrago geral. Na busca do seu salvador da pátria, os clubes deixaram de fazer o investimento onde precisa, que é no desenvolvimento de pessoal, e passaram a enxergar na verba milionária a mola propulsora de excelentes negócios. É só ver o valor que se movimenta hoje em transações de atletas para perceber que a valorização veio na ponta final do negócio.
O problema é que, com isso, há um desequilíbrio na ordem.
Como o mercado já tem bastante investidor, o nível de competitividade aumenta e é difícil obter retorno em curto prazo. Alguns clubes são mais prósperos porque sabem que o investimento que chega não é só para investir em atletas. E, também, que demora para ter retorno.
Agora, a quebradeira dos investidores chineses pode ajudar os clubes a entender que ter dinheiro não significa, necessariamente, ter vitórias em campo. E, mais ainda, que não é qualquer dinheiro que vale. Há, dentro dessa realidade, muito aventureiro que sonha com o estrelato a partir do futebol, mas que não sabe como chegar lá.
Não existe fórmula mágica. O PSG talvez venha a ser um dos últimos clubes que vai conseguir se colocar entre os grandes seguindo o modelo do Chelsea.
Quem anda na contramão de tudo isso é a Alemanha, que ainda exige que os clubes não sejam empresas privadas. A regra do 50+1 que já foi motivo de chacota parece ser, atualmente, uma visão conservadora completamente correta dos alemães.
Se, há 15 anos, o futuro parecia ser dos megainvestidores, agora parece que a salvação virá do equilíbrio de forças.
Como sempre…