Uma frase ali, um dado aqui e pronto: o culpado pelo incêndio no Museu Nacional do Rio de Janeiro virou o povo brasileiro. A ideia de que o espaço ruiu porque era pouco frequentado passou por jornalistas e algumas autoridades. “A elite brasileira só se interessa por museu na Europa”, chegou a declarar um pesquisador da UFRJ, faculdade que administra o local.
O caso lembra bastante o modo como parte do esporte enxerga a si mesmo: como se estivesse às margens da indústria do entretenimento. O público passa então a ter uma certa obrigação de contornar as dificuldades para fazer com que o negócio seja sustentável, nunca o contrário. Algo que não faz nenhum sentido.
Evidentemente, o Museu Nacional do Rio de Janeiro não era só isso. Além de um espaço de exposição, era um centro de pesquisa. Por isso mesmo, é absolutamente inadmissível que o repasse federal tenha caído ao ponto de tornar a manutenção básica algo menos importante.
Mas do ponto de vista de um centro turístico, a culpa da pouca visitação ao Museu é total responsabilidade da gestão, jamais de um suposto desinteresse do público.
No esporte, a lógica invertida é usada constantemente: é o time de futebol que fecha os olhos para a violência policial nas partidas e depois reclama do baixo público. É o time que não consegue criar canais básicos de relacionamento com o mercado e depois reclama que uma marca nacional preferiu fechar um contrato de patrocínio com o Barcelona.
A paixão pelo futebol não é combustível suficiente para fazer a roda andar, rigorosamente da mesma maneira que interesse histórico não é o bastante para fazer com que se formem filas ao redor dos grandes museus do Brasil. É preciso ir além, é preciso transferir a lógica de negócio do entretenimento para esses segmentos. Simplesmente porque eles são formas de entretenimento. Não há demérito algum nisso.
Os grandes centros globais já entenderam isso muito bem. O Louvre, em Paris, abre suas portas para eventos que vão de gravações comerciais a festas privadas, mesma estratégia do Metropolitan, em Nova York. A National Gallery, de Londres, vende eventos como jantares entre as principais obras do espaço.
São soluções para aumentar a renda, melhorar a promoção e fazer o negócio se tornar menos dependente de verbas públicas. Algo que serve para qualquer entretenimento.
Em todos os casos, culpar o consumidor final é, no mínimo, covardia.