Há anos, a precificação é um enorme problema na gestão do esporte no Brasil. É um erro recorrente: quem organiza um evento parece insistir em não ter nenhuma base para colocar um valor correto no tíquete do ingresso. E o rúgbi dá mais uma demonstração de como isso é visto de maneira torta.
O encontro da seleção brasileira com o time All Blacks Maori, da Nova Zelândia, será um evento de grande apelo em um país com pouca tradição no rúgbi. É a equipe da Oceania a responsável por tornar a modalidade mais conhecida globalmente, seja pelo alto nível técnico, seja por toda a coreografia especial que envolve a disputa. Seria importante para o esporte que a partida fosse um enorme sucesso de público.
O número de pagantes esperados, no entanto, é de 25 mil pessoas no Morumbi. O potencial real fica claro quando se sabe que, mesmo a mais de um mês para a partida, mais de 10 mil tíquetes foram vendidos. Por que não um estádio lotado? Porque a entrada custa R$ 70, muito para qualquer coisa no Brasil.
Para o rúgbi, ter um Morumbi lotado de pessoas que entrariam em contato com a cultura que envolve o esporte seria absolutamente fantástico. Para os patrocinadores, seria uma oportunidade única de realizar uma grande ativação. O preço alto, no entanto, pode ter duas explicações: os organizadores deram mais valor ao produto do que ele vale ou entenderam que ele perderia a percepção de valor com um ingresso baixo, uma aberração comum no mercado esportivo nacional.
De qualquer forma, os erros são constantes. Foi o caso do Barcelona Legends em Pernambuco, com uma renda muito menor do que o esperado; o tíquete mínimo era significativamente alto. Não são exceções. Já houve problemas semelhantes com tênis, basquete, MMA e, claro, futebol. Com futebol é constante, por sinal.
Não é fácil criar um sistema de precificação em um ambiente comercial pouco desenvolvido. Exige alguma experiência que nem sempre está disponível. Mas esse “arriscar para cima” é que tem se mostrado pouco efetivo e precisa mudar.
E precisa mesmo. O caso do Barcelona é emblemático, com a dificuldade para arcar com os fornecedores do evento. Mas não é só isso. A cada cadeira vazia em um evento atrativo, esvazia-se uma oportunidade de negócio. O rúgbi tem um evento divertido, e é lamentável que 35 mil assentos fiquem disponíveis no Morumbi. É preciso acertar o preço e saber lucrar com uma presença maior de torcedores.