Neste último domingo (28), numa das mais acirradas eleições de sua história, o Brasil escolheu o novo Presidente da República. O processo eleitoral que conduziu Jair Bolsonaro à presidência precisa ser encarado pelo brasileiro com extrema cautela e merece um delicado processo de autoanálise.
Tivemos talvez uma das eleições mais deploráveis do ponto de vista ético. Além do atentado ao próprio presidente durante comício, tivemos três mortes motivadas pela simples divergência política, diversas discussões tolas pelas redes sociais e um crescente aumento da violência proporcionado pelo discurso do ódio.
O futebol no Brasil convive, há pelo menos três décadas, com esse cenário.
Contabilizamos mais de duas centenas de vidas tiradas pelos confrontos entre torcedores, brigas incontáveis motivadas pelo simples fato de alguém torcer pelo rival, intolerância ao outro incentivada por dirigentes, atletas e profissionais do meio.
É em meio a esse cenário que Bolsonaro entra para o jogo. O maior desafio do novo presidente não é tirar o país da crise econômica, mas fazer com que voltemos a ter um propósito de existência. Para não corrermos o risco de uma ruptura violenta.
Em seu primeiro discurso, Bolsonaro procurou defender a democracia e assegurar que não há risco de o país rasgar a Constituição. Já é um primeiro passo.
O esporte nos ensina, desde pequenos, que ganhar ou perder faz parte do jogo. E que é preciso, a cada derrota, analisar os erros cometidos e partir para a próxima.
Por isso mesmo, o novo governo já assume pressionado. A pobreza do discurso de que “tem de mudar isso que está aí”, de forte apelo popular e fundamental para conseguir alcançar a vitória, é extremamente preocupante do ponto de vista gerencial. O novo presidente precisa, agora, mostrar que existem planos para o país.
O investimento no acesso ao esporte para todos pode ser a base de uma transformação da sociedade. O esporte nos ensina a jogar limpo, a respeitar regras, a se preparar para conquistar um objetivo. E, também, que perdemos, mas que temos sempre o jogo seguinte para recomeçar.
O que Bolsonaro quer para o esporte?
Em seu programa, o presidente não dedicou qualquer espaço para o esporte. É hora de a indústria se mobilizar para cobrar do novo mandatário do país um plano para que não deixemos um caminho de oportunidades para as pessoas se fechar.
O jogo está no começo e tem um novo treinador. Que precisa entender o papel que o esporte pode ter na sociedade. Seria um bom caminho para reduzir a fissura.