Virou moda entre boa parte da imprensa e alguns especialistas em gestão esportiva usar o discurso de que o Brasil corre o risco de ver uma “espanholização” em seu futebol a partir do momento em que dois clubes passam a ganhar muito mais dinheiro de mídia do que os outros.
O uso da expressão, especialmente em meados da década passada, tinha de certa forma sua lógica. Naquela época, com a negociação individual dos contratos de televisão, somada a um plano de expansão de marca internacional, Barcelona e Real Madrid se tornaram as duas forças dominantes do futebol espanhol. A soberania era tanta que o objetivo para os demais clubes passou a ser tentar não perder deles. Como reflexo disso, o Campeonato Espanhol perdia atratividade pela falta de competitividade.
Dez anos depois, a liga espanhola comemora o aumento de público em seus estádios e, também, uma disputa cada vez mais interessante dentro de campo. Mais do que isso, celebra também a consolidação de seu campeonato como o segundo mais importante da Europa, atrás apenas da Premier League. E a tal da “espanholização” que iria matar o poder de marca?
Bom, Barça e Real se tornaram tão fortes que viraram o produto de exportação da liga espanhola. Os dois passaram a dominar não só a Espanha mas também a Europa. Além deles, times como Atlético de Madrid, Valencia e Sevilla mantiveram-se com certo protagonismo em competições europeias. Assim, a disparidade financeira começou a ser equilibrada tecnicamente. Ainda é impossível competir com Barça e Real dentro e fora de campo, mas o protagonismo da dupla tornou a LaLiga objeto de desejo do fã de futebol pelo mundo.
E o Brasil? Como está o processo de “espanholização” do nosso futebol?
Enquanto, nas duas últimas décadas, a Espanha caminhou rumo a um modelo mais sustentável, nós regredimos substancialmente. O fim de um modelo que tinha uma entidade representativa de classe dos clubes ruiu qualquer projeto para o futebol.
Hoje, temos mais dinheiro dentro do futebol brasileiro, mas com uma gestão viciada em velhos hábitos que não traduz o aumento de receita em melhora de qualidade do produto. Pelo contrário, seguimos olhando cada um seu próprio quadrado, sem se preocupar em fazer crescer o futebol como um todo.
Há 15 anos, esse era o erro da Espanha. Hoje, a LaLiga é um modelo a ser estudado pelo Brasil. Principalmente por ser um modelo de negócios muito próximo da nossa realidade como nenhum outro.