A revelação dos reais valores que envolveram o contrato entre Corinthians e BMG explicitou algo que estava encoberto no esporte: a crise do país, como era de se esperar, chegou ao futebol. E ela está presente há alguns anos, mas foi pouco percebida graças à presença massiva da Caixa, que tomou patrocínios com valores bem acima do que o mercado pagaria de fato.
E o Corinthians deixa claro o tamanho do problema. Em 2007, o time ganhava cerca de R$ 15 milhões por ano da Samsung pelo patrocínio máster, com frente e costas do uniforme. O valor, corrigido pela inflação, como base no IPCA do IBGE, chega a R$ 29 milhões atualmente. Hoje, com a soma dos aportes de BMG e Positivo, na mesma propriedade usada pela Samsung, o valor não chega a R$ 19 milhões.
E a diferença de R$ 10 milhões entre o que ganha atualmente para o que ganhava há 12 anos não reflete completamente a crise do mercado. Em teoria, hoje, o Corinthians vale muito mais do que valia. São 20 milhões de seguidores em redes sociais, mais de 100 mil sócios, dezenas de lojas físicas e uma arena de excelência. Fatores que não eram nem sonhados em 2007.
O problema central, claro, foi a crise econômica vivida pelo país. Em 2007, o Brasil vinha em sequência de crescimento; naquele ano, o PIB subiu 6,1%. Hoje, após dois anos em recessão, já há um tímido movimento de melhora, ainda que as perspectivas não sejam claras.
Em crise, o natural é o corte ao que não é considerado fundamental. O mercado publicitário, por exemplo, sofreu com ela, e chegou a ter ano com queda de faturamento. Em um segmento bem menos sólido, como é o esporte no Brasil, é natural que o tranco seja ainda maior, com menos poder de investimentos das empresas.
A culpa, no entanto, não é exclusiva do cenário macroeconômico. Na última década, os clubes praticamente expulsaram as grandes marcas do futebol, como o próprio Corinthians fez com a Samsung; o time rompeu com os sul-coreanos para fechar com a Medial. Em 2007, Pirelli e LG também faziam parte do futebol paulista. Hoje, uma companhia que esteja entre as líderes do mercado simplesmente não está entre os clubes. E são justamente elas que teriam maior poder financeiro para patrocínios. Sobram aquelas que estão à margem de seus concorrentes, como é o caso do BMG.
No fim, a Caixa sustentou o futebol por um período, mas, em longo prazo, gerou uma artificialidade perversa para os times, que terão que lidar agora com a realidade.