O discurso que os dirigentes de clubes têm usado para justificar a venda de seus clubes é o da sobrevivência. Foi assim que o Bragantino explicou o motivo de vender o clube para a Red Bull, e é assim que o CSA tem defendido a proposta vinda da China para privatizar o time alagoano.
Por trás das declarações que tentam aplacar um pouco a indignação do torcedor mais apaixonado, está uma situação muito clara para o futebol brasileiro: ou começamos a trabalhar focados no crescimento, ou o futebol ficará estagnado no passado.
Foi a partir da venda do Chelsea, em 2003, que os clubes ingleses perceberam o enorme potencial que tinham pela frente. Fechar a gestão não é um crime contra os princípios da entidade, mas pode levá-la a um novo patamar de competitividade.
O risco que temos, no Brasil, é o de confundir privatização com sucesso gerencial. Não é porque privatizamos a gestão que ela se tornará eficiente. É só ver quantas empresas entram em falência para entender que o problema não é se ela tem um dono ou não, mas como ela é gerida.
No caso do futebol, a privatização dos clubes de pequeno e médio porte, como Bragantino e CSA, pode significar um tremendo salto competitivo. Como os dois são clubes sociais, dependem de uma série de burocracias para tomadas de decisões. E essas, geralmente, são feitas por pessoas sem qualquer comprometimento com a gestão que, para piorar, têm mania de grandeza. O clube, então, se transforma num estorvo. Os associados acham que é preciso fazer qualquer coisa para criar uma equipe forte, mas não se comprometem a ter racionalidade para equacionar os investimentos e não levar o clube à falência.
Quando clubes que possuem história e torcida, mas não conseguem crescer, viram focos de investimento, o caminho a ser trilhado pode ser bem interessante. A maior dificuldade que existe é separar a mania de grandeza do dirigente da precária situação financeira. Tendo por trás um grupo investidor que gerencie o negócio e tenha essa visão de que o maior patrimônio que ele tem é o torcedor, a tendência é de se criar uma base sólida de crescimento e desenvolvimento. O torcedor, então, volta a se aproximar do clube e, assim, o crescimento desse modelo de negócio é quase certo.
CSA e Bragantino conseguiriam sobreviver tranquilamente sem privatização. Mas, para o ego do torcedor e do próprio dirigente, vender o clube para alguém que tenha fôlego de investimento e gestão racional indica um futuro mais promissor.