A novela entre Palmeiras e Globo parece que se aproxima de um final feliz. Nos próximos dias, o clube deve anunciar o acerto com a emissora, e o Campeonato Brasileiro voltará a ter todos os jogos exibidos na televisão.
O palmeirense celebra, com razão, a força de negociação que o clube conseguiu ter para não aceitar a imposição de condições da Globo para assinar com ela. Mas, sem razão, acha que isso vai motivar outros clubes a fazerem o mesmo daqui para frente. Esqueça o discurso empolgado de quem conseguiu uma grande vitória: ela não será capaz de mudar estruturalmente a dependência que o futebol tem da Globo.
Para entender isso, é só ver como a Premier League conseguiu ser um exemplo para o futebol em todo o mundo. Somente quando os clubes passam a ser donos da geração de conteúdo e negociam em bloco seus direitos de mídia é que o torneio consegue se tornar independente da força econômica que a mídia possui.
Em 2003, a Premier League passou a mirar o modelo da NFL para sua liga. Os clubes assumiram a geração de imagens do Campeonato Inglês e começaram a negociar com mais força a venda de direitos de mídia. Àquela época, um acordo exclusivo com a BSkyB faria com que a Premier League se tornasse a competição com maior valor pago pela televisão na Europa.
O negócio gerou enorme discussão. A venda para uma única empresa, a um preço fechado, gerou debates sobre formação de cartel. Além disso, pela primeira vez o futebol inglês deixaria de ser exibido na TV aberta, o que causava enorme indignação para o fanático torcedor britânico.
O caso foi parar na corte da União Europeia. Após intensa pesquisa, descobriu-se que o modelo que a Premier League adotava não só era justo, como seria o mais indicado para melhorar a qualidade do futebol inglês. Foi então que a UE decidiu que os outros países precisariam adotar a negociação em bloco, acabando com absurdos como na Espanha e na Itália, em que três times ficavam com 80% da receita de mídia.
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Desde então, as principais ligas de futebol passaram a produzir as imagens de seus jogos e negociar em bloco com as emissoras de TV contratos mais vantajosos. É a combinação desses dois fatores que garante que o campeonato tenha mais força para não depender tanto do dinheiro da TV.
Essa fórmula é adotada há mais de 50 anos nos Estados Unidos e há pelo menos 15 na Europa. Como em qualquer situação, ter 20 pessoas de um lado é sempre garantia de ter mais força do que ser só um.