O Brasil tem sido forte no futebol feminino nas últimas décadas. Mas, de Sissi a Marta, a bola tem entrado por acaso. Craques surgem no país graças à alta popularidade do esporte, não por um processo profissional. Agora, a situação ficou mais clara. Enquanto outros países evoluíram muito na modalidade, a seleção parece ter ficado para trás, no velho talento espontâneo.
A derrota para a França mostrou que os bons talentos do Brasil continuam em alta, mas há enormes problemas com o futebol feminino nacional. Ao longo da competição, por exemplo, ficou claro que, fisicamente, as atletas do país estavam abaixo de suas rivais, sinal de estrutura falha e, claro, de jogadoras veteranas sem um processo de renovação. Além disso, se Marta reinava sozinha havia alguns anos, a Copa do Mundo mostrou que outros países também têm desenvolvido boas jogadoras.
O problema é que o futebol feminino foi deixado totalmente de lado pela CBF ao longo dos anos. Apenas recentemente a entidade tem demonstrado uma maior preocupação com a modalidade, com o desenvolvimento de torneios profissionais e de base. Em 2016, foi criada uma pasta na confederação focada na modalidade. O Campeonato Brasileiro existe desde 2013, apenas. A Liga dos Campeões, na Europa, é de 2001. É muita diferença.
Basicamente, até recentemente não existia no Brasil nenhum tipo de estrutura. Com times pontuais, não havia trabalho de base, calendário e muito menos um plano comercial para a modalidade. Na verdade, é incrível o sucesso alcançado pela seleção brasileira até este momento.
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O futebol feminino, proibido no Brasil até o fim da década de 1970, nunca foi visto com bons olhos pela gestão do esporte no país. Por anos, era considerado algo sem interesse de público. Mesmo mais recentemente, o esporte sempre foi colocado como uma questão mais social do que comercial. E nunca foi para frente.
Essa é a grande mudança que todos puderam ver na Copa do Mundo deste ano. O futebol feminino não é secundário. Público, patrocinadores e mídia provaram que este é sim um grande produto. O que significa que, no Brasil, a cada ano em que ele é deixado de lado, fica um mercado com enorme potencial sem exploração. Hoje, não pensar no futebol feminino é uma maneira de deixar de ganhar dinheiro com esporte.
O Brasil começa a levar o futebol feminino a sério com enorme atraso, mas, com um nível mínimo de profissionalismo, a tendência é que ele finalmente deslanche.